Quinta Semana - Matemática Orçamentária e o Festival do Tédio

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Quarentena, Dia 29 – Nosso vídeo no Youtube teve cem mil visualizações. Em cinco dias! Ok, não é um viraaaaaaal, mas é um belo de um número. Se continuar nesse ritmo, quem sabe não nos renda um troquinho? Isto é, assim que o nosso canal for elegível para uma plataforma de propaganda.


Quarentena, Dia 30 – Acabamos de completar um mês em casa. Fiz um bolo, mas estou entediada demais para comemorar.


Quarentena, Dia 31 – Primeira tentativa de fazer uma máscara caseira. Ficou igualzinha a um coador de café.

Um pouco mais tarde – Segunda tentativa: não sabia que era possível usar uma fralda na cara.

Algumas horas depois – Acho que agora eu acertei! Catei uma ecobag, cortei dois buracos para os olhos, botei na cabeça e amarrei bem firme no queixo. Agora, estou segura. Nada de trazer vírus para casa.


Quarentena, Dia 32 – Hora de fazer a contabilidade do mês:

Sem apresentar as peças, o teatro não tem renda. Resultado: também não temos salário;

Com a quarentena, as festas foram proibidas. Resultado: não estou tirando aquele extra das animações de festas infantis;

Com os bares fechados, nada de trampo para a cantora aqui. Resultado: não tem cachê;

Resumindo: não tem salário, não tem bico, não tem cachê, NÃO TEM BISCOITO!

Pelo menos a coluna no jornal, né!

Resumo da Ópera:

SALÁRIO: aproximadamente 1/3do habitual.

CONTAS DO MÊS: sem mudanças, ou seja, 100% das contas habituais.

DESPESAS DE SUPERMERCADO: quase o dobro do normal (detalhe: comprando os mesmos produtos de sempre, sem tirar nem pôr; os preços estão pela hora da morte!), portanto, são 100%ao quadrado.

DESPESAS EXTRAS: álcool gel e álcool 70% líquido (ambos caros à beça, mas para os nossos cálculos, vamos considerar x).


Agora que já fechei o balanço do mês, a matemática ficou bem fácil de entender:

Agora que já fechei o balanço do mês, a matemática ficou bem fácil de entender:

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Vou nem tentar resolver essa equação, porque já sei que a conta não vai fechar.

Daí eu estou tentando explicar essa matemática para minha mãe por telefone, e ela me lembra:

– Mas, filha, você tem dinheiro guardado.

Sim, para emergências! Nome sujo não mata ninguém, então, deixa minhas economias lá quietinhas, para quando realmente precisarmos delas. Conta atrasada, não sendo as essenciais (aluguel, água e luz), a gente empurra com a barriga. Quando o mundo voltar ao normal a gente vê em quantas encarnações dá para parcelar o restante.


Quarentena, Dia 33 – Acabo de descobrir que tem uma lagartixa vivendo atrás da minha máquina de lavar. Vou chamá-la de Catarina.


Quarentena, Dia 34 – Aqui estamos para mais um boletim extraordinário: não tem nada acontecendo no meu prédio. Os corredores estão vazios. Salão de festas está fechado. O playground está às moscas. A piscina interditada. Até os capetinhas dos filhos dos vizinhos que costumam atazanar todo mundo no prédio estão trancados em casa. O ponto alto do dia foi quando uma maritaca resolveu fazer uma visita na minha varanda. Foi aí que eu descobri que a vida social do meu cachorro está mais emocionante que a minha. A maritaca ficou mais ou menos meia hora batendo papo com ele: ela berrava do lado de fora e o Piripaque latia aqui dentro. Não sei qual foi o assunto, mas, pelo visto, a conversa estava boa.

Numa certa hora, ficamos tão entediadas que eu interfonei para a portaria para saber se o seu Ezequiel não teria alguma fofoca para compartilhar, mas, segundo ele, está até difícil reconhecer quem entra e quem sai do prédio, porque com o uso obrigatório de máscara, está todo mundo com cara de enfermeiro de centro cirúrgico, ou de terrorista.

– Olha, se algum marido corno pegar a mulher no flagra com o amante, e o cara estiver usando máscara, é capaz do cabra acreditar que está vendo ele mesmo no flagrante, porque está difícil identificar quem é o João, quem é o José – finalizou.

Ou seja, não tem nada acontecendo no reino da Dinamarca. Nem no Edifício Toscano.

Nunca pensei que eu fosse sentir saudade de bater boca com a Dona Lourdes...


Quarentena, Dia 35 – Hora de sortear o boleto que eu não vou pagar esse mês.

Vejamos... E o contemplado é...

Quarentena Faz CoisaOnde histórias criam vida. Descubra agora