2. Fome

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Pascua: forma que os chilenos chamam o natal

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Pascua: forma que os chilenos chamam o natal.

Faltava um dia para a ceia. Estava quase tudo pronto, mas infelizmente não conseguiria atender às expectativas de minha mãe quanto aos meus amigos.

Sabe, é muito difícil ser um cristão genuíno em ambientes completamente tomados por descrentes, pois parece que tudo o que você faz ou fale é contrário ou errado. Eu, por exemplo, curso Bioquímica na Universidad de Chile há 3 anos e, durante esse tempo, enfrentei oposições de colegas, professores, coordenadores e até do grupo da atlética. Convivo com pessoas que tendem a valorizar mais a ciência do que a palavra de Deus, o que é até compreensível, visto que eles não acreditam nas Escrituras, e por vezes sou taxada como leiga, tola e ignorante. Estas coisas me desanimam constantemente mas, quando vou para a Bíblia, consigo entender o porquê de eu acreditar em Deus e em tudo o que Ele faz. Ali eu vejo que o ilógico é não crer! 

A igreja que frequentamos é bem pequenininha e temos poucos membros, a grande maioria de idosos. Eu, minha irmã e o Vicente formamos o "grupo" de jovens. O Vicente está sempre em nossa casa; por ser filho único e ter uma relação difícil com o seu padrasto, ele prefere manter-se distante de conflitos. Muito provavelmente ele participará conosco da ceia de pascua na casa do Sr. Sebastián, mas não consigo pensar em ninguém além dele para convidar, pois os colegas da universidade me odeiam, nossos vizinhos estão viajando e eu não tenho amigos. Uma pena, pois esta pequena comemoração poderia ajudar muito ao Sr. Sebastián a ter um pouco de alegria por conhecer novas pessoas, com experiências de vida e histórias para contar. Espero muito que um dia ele se permita ser iluminado com o brilho de Jesus.

O som de chamada do meu celular corta o silêncio dos meus pensamentos. Era a Valerie. Eu atendo.

– Mía, onde estás? – diz ela, com voz de chateação.

– Valerie, estou em casa! – digo, sem entender o motivo da ligação.

– Não tínhamos um compromisso às 8h? Esqueceu? – pergunta. Logo me lembro que havia marcado com minha irmã de comprarmos roupas juntas para a noite de pascua. Valerie tinha saído mais cedo para uma consulta e, após o término, me aguardaria na loja. Eu, como sempre, esquecida, e Valerie, como sempre, deixando tudo para cima da hora.

– Ops… Estou indo! Já chego aí! – digo encerrando a ligação. Aviso à minha mãe, que estava na cozinha enquanto as crianças assistia, e saí de casa às pressas.

Após descer as escadas e sair do apartamento, sigo pela rua Paris-Londres, caminhando com bastante pressa

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Após descer as escadas e sair do apartamento, sigo pela rua Paris-Londres, caminhando com bastante pressa. A loja onde devia encontrar a Valerie não era longe, então não precisava me deslocar de ônibus ou metrô. A partir de amanhã todos os comércios estarão fechados e é quase impossível encontrar pessoas nas ruas, com excessão daqueles que moram nelas…

– Oi, você pode me ajudar? – me aborda um jovem rapaz, me tirando dos meus pensamentos.

– Oi! Ah, eu estou com um pouco de pressa agora. Pode ser outra hora? – digo, lembrando da Valerie furiosa que deixei na loja me esperando. 

– Não é nada demais… é que não consegui nada pra comer desde ontem… você não teria uma moeda ou algo que eu pudesse comer? – responde. Sua fala foi como um soco, pois eu estava tão preocupada em gastar dinheiro com roupas que esqueci de observar ao meu redor quem realmente precisava. Aquele jovem não era um completo estranho; comumente eu lhe via perambular pelas ruas do bairro, sozinho ou com outros sem-teto. Algumas vezes, em dias muito frios, eu os entregava cobertores ou alimentos quentes. Era notório a alegria de todos eles por estar recebendo um pouco de comida. Não imagino quão difícil deve ser viver assim. 

– Ai, claro! Desculpe… como é que você se chama mesmo? 

– Tomás. 

– Tomás, claro! Olha só, vou te dar um valor para você se alimentar e mais um pouco, como um presente de pascua. Pode comprar uma roupa, sapatos novos, um corte de cabelo, o que quiser.

– Eu fico agradecido, mas não é necessário…

– Tomás, se você não aceitar, vou ficar muito triste. Não se preocupe, não vai me fazer falta!

– Nossa… – diz coçando a cabeça sem jeito. Hesitar em aceitar dinheiro, quem faz isso? – A senhorita tem certeza? – confirmo que sim. Estendo a mão e lhe entrego o dinheiro. Ainda sem jeito, ele pega. O observando bem, sua aparência, seu modo de falar e se comportar  não parece ser como os outros que vivem nesta mesma condição. 

Me despeço do jovem e continuo em meu caminho rumo à loja, mas sem o dinheiro para as roupas. 

Depois de 3 horas experimentando roupas, finalmente a Valerie encontrou um vestido e pudemos voltar para casa. O Vicente estava conosco. Acho que a Valerie ficou com medo de eu não aparecer. Eu lhes contei que não tinha mais o dinheiro para as roupas, pois havia doado ao jovem. Eles ficaram chocados, mas entenderam os meus motivos. Ao retornar para casa, avistei o Tomás perto do nosso apartamento. Dessa vez, com um casaco, calça e sapatos novos; além disso, estava com cabelo e barba feitos. A alegria no seu rosto era notória, e pude perceber que ele compartilhava o que restara do valor com um senhor. 

Muitas vezes, não conseguimos entender os efeitos de uma pequena ação nossa, mas que pode ter grandes impactos na vida de muitas pessoas, e que Deus encara com grande satisfação! 

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Muitas vezes, não conseguimos entender os efeitos de uma pequena ação nossa, mas que pode ter grandes impactos na vida de muitas pessoas, e que Deus encara com grande satisfação! 

"Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: “Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo.  Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa.  Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar.”
Mateus 25:34‭-‬36

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