Único

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Revelar que viveu um relacionamento abusivo é difícil. Admitir para si mesmo que em um determinado momento de sua vida, você esteve em uma relação tóxica é mais difícil ainda. Porque não tem para onde correr, você precisa ser forte e corajoso para admitir que aceitou algo bem menor do que merece.

Só que, é como dizem: a gente aceita o amor que acha merecer.

E é exatamente sobre isso. Esse é o ponto de embarque para uma história nunca antes contada, um término de um relacionamento perfeito aos olhos de parentes e amigos ou até mesmo de pessoas desconhecidas para o casal.

Sakura nunca acreditou em sorte, cores, objetos, datas, números da sorte. Para ela era bobagem, mas quando conheceu Sasuke no dia vinte e um de agosto com exatamente vinte e um anos soube que não era coincidência e que, a sorte havia batido em sua porta.

E de todas as coisas que Sakura já guardou no peito, Sasuke foi a que ocupou mais espaço. E se um tinha já teve medo de se despir diante de alguém, ele foi aquele que tirou cada peça de roupa, escudo e insegurança e a viu nua sem estremecer. De corpo e alma.

Amava tudo em Sasuke, cada detalhe sem tirar nem pôr, mas de longe o que mais gostava era o olhar dele. Era intenso e sedutor. Quando ele a olhava, Sakura tinha a sensação de que ele nunca deixaria de amá-la.

Mas deixou.

Eu vou estar aqui quando seu peito não aguentar o peso dos dias tristes. Quando seus olhos pequenos estiveram estufados de dor e até o simples ato de respirar parecer difícil. Você deve saber que alguns detalhes bonitos do mundo jamais existiriam sem a tua existência, o que unicamente consegue fazer ninguém chegaria aos teus pés. Eu estarei aqui como um bilhete chato de geladeira, 'pra te lembrar o quão incrível você é.

Foram as palavras de Sasuke em uma das primeiras brigas. Sakura se apaixonava por ele um pouco mais depois de todas as palavras doces que saíam da boca dele depois de uma discussão e de como ele tocava seu corpo após uma discussão.

De como esfregava o corpo cheiroso no dela e a fazia sentir um prazer que nenhuma outra pessoa fora capaz de fazê-la sentir um terço da metade algum dia. Sua selvageria e forma de tomá-la, totalmente pecaminosa, como se estivesse profanando um lugar puritano e sagrado, mas ainda assim tão suave e amoroso, sendo capaz de passar para ela todo o amor que ele carregava no peito.

Mas com o decorrer do tempo e o desenrolar da rotina o amor foi se esfriando, as brigas eram constantes e a desconfiança se fazia presente. O ciúmes quase doentio de Sakura e o pavio curto de Sasuke eram como fogo e gasolina, causando uma combustão de brigas, xingamentos e ofensas trocadas na hora da raiva.

E tudo acabava exatamente da mesma forma: se resolviam na cama ao mesmo tempo que não resolviam nada, até que empurravam com a barriga até a próxima discussão, cada uma pior que a outra.

Mas quando Sakura o ouvia a chamando de "meu bem" ou quando Sasuke a ouvia dizer com manha que o amava era como um antídoto e então paravam de brigar feito leões e esqueciam todas as palavras odiosas que proferiam no calor do momento em uma briga.

Desistiram um do outro umas vinte e uma vezes. Sakura sentiu aqueles lábios lhe contarem vinte e uma mentiras diferentes, apenas porque Sasuke estava cansado de ser interrogado toda noite quando chegava do trabalho, sendo acusado de infidelidade por ela, cansado de todos os surtos e todas as taças e objetos da casa sendo arremessados pelas paredes.

Me conte algo verdadeiro! — ela pediu com urgência, aos gritos.

Sakura era sua morte e ainda assim, não conseguia deixá-la. Então a prendia, não sabendo como deixá-la ir. Não sabendo deixar de amá-la, tornando o amor de ambos em algo tóxico, quase tão radioativo quanto a própria Chernobyl.

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