nas crateras da lua || taegyu

único

Nas crateras da Lua vive um menino de cabelos loiros cor de elfo, de riso fácil de covinha fofa na bochecha e de olhos grandes e redondos, quais dois berlindes feitos olhos de gato brilhantes e curiosos, num tom negro meia-noite — a hora a que as fadas da Lua finalmente se deitam, após assistir o espetáculo da dança das estrelas.

Ele atende pelo nome de Kang Taehyun, pesca peixes-espada que orbitam a Terra e ouve o murmúrio das orcas-galácticas, que trazem sempre na ponta da língua uma fofoca da Terra, as quais ele ouve muito atento, com os olhos muito abertos, a boca escancarada e o sonho de ter um amigo com quem dividir os fones de ouvido, por onde ouve umas músiquinhas engraçadas que passam na rádio sintonizada num canal fm de Saturno, um dos planetas que o rege.

Taehyun sonha saber o que o futuro lhe reserva. Deitado na superfície rochosa da Lua, com as pernas pendentes em direção ao vasto universo, baloiça-as para cima e para baixo, de olhos fixos na constelação de Aquário — porque ele nasceu a 5 de fevereiro e é aquariano criativo que desenha estrelas na ponta dos dedos, atira pedrinhas para ver qual chega mais longe e cuida do seu pequeno jardim de trepadeiras em flor, que sobem e se enrolam no ar, fazendo sombra quando o Sol se cruza com a Lua e muito tímidos se desfazem em elogios amorosos.

À noite, debruçado sob o parapeito da janela, Choi Beomgyu observa o menino da Lua, que dança divertido com as fadas de vestidinhos rosa-cereja e azul-ciano e ri estrelas-cadentes no sorriso mais bonito que Beomgyu alguma vez vira. Ele pede desejos às estrelas, mas elas fazem-se de surdas ou, muito resmungonas, dizem que o dever delas, ao contrário do que muitos humanos pensam, não é conceder desejos!

"Há um menininho chato lá na Terra que todos as noites pergunta por ti", diz Beta Aquarii, melhor amiga de Taehyun da constelação do Aguadeiro.

"E quem é ele?"

"Um Beomgyu lá da Terra. Loirinho traquina de covinhas nas bochechas."

"Pergunta-lhe qual é o signo dele e a que horas nasceu. Quero fazer o mapa astral."

"Não vou fazer de pombo-correio, Tyunnie. Vai lá à central pedir uma linha direta com a Terra."

E Beomgyu, depois de escutar Taehyun pela primeira vez através da linha direta que liga o espaço à Terra, respondeu-lhe muito intrigado: "Mas isso importa? Quem acredita em signos?"

"Mas diz-me na mesma. Quero ver a nossa compatibilidade e ainda te posso ler o horóscopo!"

"Ah, Taehyun, pelo amor de Deus, sei lá! Deixa-te de falar de signos, louco. Quem decide a nossa compatibilidade somos nós, não são os signos, e muito menos a Maya que lê as cartas lá no programa da manhã! E que é isso de me ler o horóscopo? Que doido, mano!"

"Diz que o aquariano vai ter uma semana agitada, o número da sorte é o 17 e a cor é o vermelho... também diz que vai ter problemas financeiros, oh diabos! Ah, anda lá, diz-me o teu signo. Olha que tenho de devolver a revista ao balcão de receção."

"Está bem, está bem! É peixes."

"Número da sorte: 23, cor da semana: amarelo. Semana envolta em muito romantismo. Ah!" Corou, soltando um risinho envergonhado.

"Qual romantismo, qual quê!"

"Signo de peixes é romântico, oh!"

E durante toda a semana Taehyun correu à central para ligar a Beomgyu, que entretanto lhe dissera que estava a construir uma nave espacial para ir visitá-lo à Lua, mas que talvez não resultasse muito bem porque ela era de cartão e lata.

"Houve um menininho que chegou ao espaço numa nave feita de latas de feijão-verde... mas é que ele ficou meio louco depois da viagem e agora só ri de tudo e de nada, com um sorriso bobão na cara de bochechas furadas com duas covinhas. Ele é simpático e tal, mas meio lelé das ideias."

"É... não quero ficar lelé das ideias."

E meio que Beomgyu desistiu da ideia de ir numa nave de cartão e lata à Lua, numa viagem que ameaçava afetar a sua sanidade mental.

"Estou a ver-te", disse Taehyun de repente, sentado no banquinho da central, numa das cabines onde deixou mais uma moeda da Lua. Beomgyu levantou o braço e acenou, debruçado na janela do primeiro andar, com o corpo quase todo para fora. "Cuidado, olha que cais!"

"Por ti, só se for."

"Para, Beomgyu, que brega!"

"Vou construir uma escada até à Lua."

"Isso nem é possível!"

"O outro menino não conseguiu viajar numa nave feita de latas de feijão-verde?"

"É."

"Então! Mas até lá tens de prometer que me ligas todas as noites!"

Taehyun fez um risinho e tapou o auscultador para que o outro não ouvisse: "Beta Aquarii, podes levar um beijo meu ao Beomgyu?"

A estrela principal da constelação de Aquário, bem rabugenta como só ela e entre pipipi popopo, desceu à Terra para beijar o rosto de Beomgyu, deixando-lhe um selar na bochecha macia e trazendo consigo o aroma a shampoo de maçã. A estrela aconchegou-o na cama, por entre lençóis com desenhos de tartarugas e afagos no cabelo que lhe enfeitaram os fios loiros com pó brilhante. Embalado pelo carinho suave, sentiu-se ficar sonolento, piscando os olhos. Pela janela viu Taehyun lá longe.

"Recebeste o meu beijo, Beomgyu?"

Só que entretanto ele já estava a dormir, algures noutro lugar distante, embrenhado em sonhos coloridos, onde havia um menino de cabelos loiros-brancos, olhos redondos de estrelas e sorriso luminoso, que brincava com pedrinhas e berlindes. O seu nome era Kang Taehyun, e ele era igualzinho ao menino que vivia nas crateras da Lua.