Eu constantemente olhava as fotos do álbum antigo da minha mãe, demorou um pouco, mas em certo momento percebi que antes de eu nascer teve um período no qual ela sempre estava com o mesmo vestido preto, era a época antes de seu acidente de carro, mas quando decidi questiona-la sobre, ela apenas desviou o assunto, e quando fui olhar as fotos novamente, as dela com o tal vestido já não estavam mais lá.
Um dia deixaram uma caixa sem identificação na frente de nossa casa, eu levei até minha mãe e quando ela abriu pareceu ter visto um fantasma, eu nem cheguei a ver o que tinha ali dentro, pois ela murmurou um "achei que tinha me livrado", e jogou a caixa dentro de seu guarda roupa o trancando.
Não se passava um dia no qual eu não me perguntava o que havia ali dentro, e como se alguém ouvisse meus pensamentos, um dia o cadeado do guarda-roupa de minha mãe estava destrancado, e eu o abri, por trás daquela 'porta' estava um vestido pendurado, não mais na caixa, ele era tão lindo, quase hipnotizante, e preto como uma noite sem estrelas, idêntico ao das fotos de minha mãe, e foi só eu chegar nessa conclusão que a tal apareceu, ela gritou comigo, quase me empurrando para longe do guarda roupa, eu me defendi dizendo que o cadeado estava destrancado, e ela disse que não era possível pois tinha jogado a chave fora.
Com minha insistência em questionar o que aquele vestido estava fazendo ali ela explodiu, sem parecer parar para pensar disse que o acidente que havia sofrido de carro fora de propósito, que ela havia batido pois sabia que os médicos tirariam o vestido de seu corpo, eu fiquei quieta sem entender por que ela faria aquilo consigo mesma, e encerrando o assunto ela me mandou nunca mais chegar perto daquela peça de roupa.
Os meses se passaram e o tempo levou minha curiosidade e trouxe o esquecimento, eu praticamente não lembrava mais de toda a história com o vestido, até o dia que eu estava sozinha em casa, e ao entrar no quarto de minha mãe ali estava ele sobre sua cama, não fazia sentido, mas deduzi que minha mãe devia ter mudado de ideia e o deixado ali, afinal ele não viria andando, e essa certeza foi o suficiente para me incentivar a experimentar o tal, ele era muito bonito, e ficaria ainda mais em mim.
Deslizei a peça pelo meu corpo, amarrando suas alças atrás de meu pescoço, e o vestido parecia se encaixar perfeitamente, mas ai comecei a sentir uma sensação estranha, algo que vinha de fora para dentro, fui a passos rápidos até o banheiro para me ver no espelho, mas não consegui chegar lá antes que desmaiasse, tudo ficou escuro e eu apaguei, mas logo em seguida levantei de forma lenta, tudo que eu via parecia intermediado por algo, quase uma tela, e meus braços e pernas não estavam me obedecendo, meu corpo dirigiu-se até o banheiro mesmo sem minha permissão, e ao parar a frente do espelho minha mão começou a tocar meu rosto, como se fizesse aquilo pela primeira vez.
Meus olhos arqueados de forma diferente investigavam cada traço de mim, e então minha boca abriu sem consentimento de minha parte, e minha voz saiu dizendo: "Finalmente um novo corpo para controlar!" e então meu rosto sorriu murmurando: "Hora de brincar de fantoche".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos de uma escritora
Krótkie OpowiadaniaCada capitulo carrega um conto de temática e universo diferentes, todos criados a partir de roteiros escritos para vídeos de historia (POVs). No final de cada capitulo haverá o link do vídeo, que é a história em formato visual para quem sentir vonta...