Naquela noite Noah mal dormiu, mas quando acordou na manhã seguinte, tudo o que aconteceu naquela noite parecia ser parte de um sonho estranho. Mas ele sabia bem que foi real.
Levantou-se ainda cansado e caminhou até às janelas para abrir as cortinas, e afastando-as viu que o dia acabara de amanhecer. As ruas estavam cobertas de neve, algumas pessoas transitavam nas ruas e as outras que, em cima de carroças pregavam ao longo das ruas a proximidade do natal, desta vez faziam o mesmo mas anunciando que o natal chegou.
Sim, era 25 de Dezembro, dia de natal.
E pela primeira vez Noah não pensou na data com desprezo ou escárnio, em vez disso pensou no dia como o ponto de partida para a sua mudança. Para a sua redenção.
Para o começo da construção da melhor versão de si mesmo.
Por muito tempo apreciou a solidão e desejou que esta se estendesse até ao futuro, acabando por postergar o que era realmente de valor.
Mas agora não queria mais estar sozinho, não queria isso para si. Tinha trinta e cinco anos e não tinha nada de emocionante ou feliz na sua vida, somente o dinheiro, o prestígio, o luxo e o título de homem viúvo que mesmo não admitindo ou deixando transparecer, sofria pela perda do único filho que esteve próximo de ter.
Nunca amou a esposa e não sentiu muito pela sua morte, mas sentiu e sofreu pela perda do filho ou filha que nunca pôde conhecer. Isso foi um ato cruel do destino que só fez agravar a sua amargura, pois passou os anos seguintes a acreditar que aquilo não passou de um castigo divino para puni-lo por todas as más ações que cometeu e que ainda estaria para cometer.
Não era uma pessoa muito paternal, mas acreditava que ao ter o seu filho nos braços daria tudo de si para ser o pai que ele ou ela merecia. Porque ninguém nasce a saber ser pai ou mãe, mas pode aprender, basta querer.
Algo que os seus pais nunca quiseram aprender.
Tinha muitas resoluções para por em prática, mas uma coisa que não faria era perdoar os pais, isso simplesmente não conseguia fazer. As palavras da mãe ainda não lhe saíram da cabeça.
Apressou-se a ir até à escrivaninha para redigir uma carta ao primo, informando que mudou de ideias e iria comparecer no baile organizado pela esposa. Este seria o primeiro passo que daria. Chamou o valete, que não demorou muito a aparecer.
— Chamou, senhor?
— Sim, Martin, preciso que prepare o meu banho, mas antes disso peça para alguém encaminhar esta carta ao meu primo Theodore, e com urgência. — demandou Noah, porém o valete não deixou de notar o tom brando do patrão.
Acordou bem disposto, só falta saber quanto tempo esse bom humor irá durar, pensou o valete para consigo.
Duas horas depois de enviar a carta recebeu a resposta, pois ordenou que o criado que levaria a carta aguardasse por uma resposta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vez de Noah
Ficción históricaFoi preciso duvidar da própria sanidade, para Noah finalmente se tornar lúcido. Noah King Allen era um homem solitário e desprezado. Com o passar dos anos conseguiu afastar as poucas pessoas que se importavam com ele, acabando rico, mas soli...