Reino Afora

Capítulo 1 - Petrichor

Após mais um ciclo chegara o dia do meu aniversário que, a partir de um certo momento, passou a se tornar uma data tão ínfima aonde, como sempre, trazia diversos convidados para o palácio, em uma tentativa árdua do meu pai em mostrar a plenitude da coroa de Ágape, apresentando seus filhos para os amigos e inimigos, enquanto procura os embebedar e fechar acordos econômicos. Entretanto, dessa vez o Palácio parecia mais cheio, com mais convidados, vassalos e empregados vagando de um lado para o outro. Com essa incrível poluição sonora, me perguntava se seria possível continuar dormindo mais um pouco e, para o meu azar, essa pergunta foi respondida minutos depois com um simples "tok tok".

- Liz, já acordou filha?

- Infelizmente sim - assenti enquanto limpava os olhos. - Por que tantos ruídos ainda de manhã? - perguntei sabendo a resposta.

- Não me diga que se esqueceu? - disse em um tom amistoso. - Hoje é seu aniversário, poucas moças chegaram nesta tenra idade sem uma aliança nos dedos.

- Pai, eu já disse milhares de vezes, não irei me casar até ser rainha! - exclamei irritada. - Então, se o senhor conseguir não me apresentar nenhum homem, apenas hoje, ficaria grata. - Sibilei tentando me acalmar - Irei me arrumar, em poucos minutos já estarei pronta para o banquete.

- Entendo, irei lhe dar privacidade, não esqueça o que falei, feliz aniversário filha. - disse calorosamente.

Apesar de ser um belo discurso não faço ideia de como pô-lo em prático, digo, como poderia ser rainha? Apesar de ser a primogênita continuo sendo mulher, talvez eu devesse finalmente ouvir meu pai e me casar, esse pensamento foi rapidamente submerso ao pensar que viveria na sombra de um homem que, provavelmente, nunca amaria. Ainda assim, é injusto ver o bonifrate do meu irmão como o próximo rei de Ágape, alguém que a principal atividade durante o ócio é dormir, nada contra ele, contudo, ele não merece ser rei. Antes que eu fique horas argumentando mentalmente o porquê mereço ser rainha, é melhor ir logo me arrumar.

Depois de meia hora e um banho, estava limpa e arrumada para o meu aniversário, trajava uma combinação de um vestido azul real e um sobretudo bege, algumas joias na cabeça e um lindo colar de pérolas, havia deixado meu cabelo solto para aquele dia, particularmente hoje, minhas lisas mechas pretas pareciam mais vivas, fazendo meu volumoso e ondulado cabelo ganhar enfoque ao me olhar diversas vezes na penteadeira. Até que, depois de um pouco de maquiagem, estava pronta para mais um dia. Retirei-me do meu aposento em direção a mesa de banquete. Em todos meus ciclos de aniversário as festas sempre foram a mesma coisa, pela manhã, um banquete com familiares, depois, a entrada dos convidados de Ágape, e por fim, um grandioso banquete com todos que estavam presentes. Minha mãe, quando viva, costumava convidar até os plebeus para a festa, costume que meu pai aboliu depois da morte dela, acredito que foi um dos modos dele de lidar com o luto.

Enquanto caminhava pelos aposentos pude observar a exacerbada decoração que permeava lustres, cortinas e mesas, esse choque visual, de brilho e riquezas, não era novidade, entretanto, analisando a maneira como todos os elementos estavam dispostos pelos cômodos pude notar que havia algo de diferente, de todo modo, eu havia finalmente chegado na sala de banquete, meu pai estava conversando com alguns familiares e Chase, meu irmão, estava falando com algumas garotas dizendo, provavelmente, "Olhem para mim! Meu nome é Chase Austen e serei o próximo rei de vocês". Enfim, a sala de banquete não era nada mais do que um repartimento com uma larga mesa retangular no meio e diversas cadeiras, com destaque para a grande poltrona do rei. As lembranças que tenho dos jantares com minha mãe nessa mesa entram em contraste com as diversas vezes que me alimentei sozinha depois de sua morte, toda essa dor parecia ser ignorada por Chase e por meu pai.