Cap 1

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 “A ideia de que a minha vida é um conto de fadas é ela própria um conto de fadas." - GRACE KELLY

- Não gostei! Pega uma azul dessa moça. Fala uma adolescente de aparelhos nos dentes.

Eu subo as escadas até o segundo andar. Procuro o número 35 e desço um par azul.

Fico de joelhos para ajudar a mocinha a colocar a sandália. Admiro a espadrilha idêntica a da Laura de Alto Astral.

Ficaria muito melhor em mim.

A cliente desfila com a sandália pela loja, cruzo os dedos de olho na comissão. Quando ela anuncia:

- Acho que não gostei de nenhuma.

- Mas tenho outros modelos...

Ela vira as costas e vai embora deixando uma pilha de sandálias para eu arrumar.

Mimada insuportável

Agacho-me para arrumar toda a bagunça que ficou. Já estou quase acabando quando ouço a voz aguda da gerente:

- Pelo amor de Deus Carol, vamos agilizar!

- Sim senhora. Digo engolindo duzentos sapos. Tenho certeza que minhas crises de gastrite são causadas pelos malditos monstros verdes que eu engulo todo santo dia.

Carrego cinco caixas pelo corredor quando de repente uma cliente tromba em mim. Vejo cinco pares de mais de 500 reais caírem no chão.

- Carolina! Grita a gerente.

Suspiro. Sigo-a até a salinha dos fundos.

- Você está muito encrencada mocinha. Vou descontar tudo do seu salário.

Como se o meu salário mínimo fosse cobrir mais de dois pares.

- Desculpe pelo ocorrido a cliente...

- Não me venha com suas desculpinhas. Diz ela.

Que se dane!

- Quer saber? Você deveria rever a forma que trata os funcionários desse jeito você não vai a lugar nenhum!

- Você está demitida Carolina! Fala a gerente vermelha de raiva.

- Eu me demito.

 A propósito você é uma velha asquerosa.

Saio da loja com a roupa do corpo e um saldo muito negativo no banco. Dou de cara com uma dondoca fazendo compras no shopping com uma Louis Vuitton.

Queria tanto ser ela, ter uma bolsa que equivale a um ano do meu salário para ir comprar tudo que eu quisesse no shopping.

Vou para casa. Moro no extremo sul de São Paulo. Pego dois metros e um trem para chegar ao meu bairro do lado de uma comunidade. Assim que abro a porta da cozinha dou de cara com a minha mãe.

- O que você está fazendo em casa uma hora dessas Carol? Foi demitida – emenda ela.

Mãe tem poderes paranormais é uma única explicação.

- Então mãe... Aconteceram umas coisas hoje sabe...

- Porque te demitiram? Interroga ela.

Desabo na cadeira e conto toda história para ela. Por um momento penso que ela irá me dar um colo para me consolar.

- Sua irresponsável! Já é o quinto emprego em seis meses Carolina. Grita ela.

Eu nem discuto vou para o meu quarto. Vejo a foto de Grace Kelly na minha parede. Queria tanto que minha vida fosse um conto de fadas que nem o dela. Tenho certeza absoluta que nasci predestinada a ser como uma princesa da Disney. A minha favorita é a Cinderela. Sempre tive esperanças que um dia encontraria um príncipe lindo, ficaria muito rica e viveria a vida perfeita para qual eu nasci. O problema é que está demorando demais, não suporto mais ser pobre. E sem essa de azar nos jogos sorte no amor. Porque contra todas as expectativas eu sou muito azarada no amor. Nunca tive alguém que me amasse de verdade e olha que eu nem era tão exigente. Ultimamente eu estava bem menos criteriosa. Tinha que escolher se preferia sem cabelo ou com os dentes tortos.

Enfim eu odeio com as todas as forças a minha vida. Eu quero a minha vida perfeita igual a da Cinderela, ai sim, serei feliz.

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⏰ Última atualização: Feb 14, 2015 ⏰

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