A Garota da Faca

Capítulo Quarenta e Sete

Meu pai pegou a chave da minha mão, empurrou uma cortina para o lado e apareceu uma porta, ele a abriu e, Deus, havia um forno crematório, meio antigo.

Eu estava ali boquiaberta. Quanta revelação.

Meus pais nunca me disseram como eles se livravam dos corpos, e agora eu estava ali, aonde tudo se resumia em cinzas.

- Depois de por o corpo e queima-lo, limpe tudo.

- E quanto as cinzas? - Perguntei.

- Faça o que quiser com elas. Mas temos regras sobre esse local. Nunca, em hipótese alguma deve revela-lo. Certifique-se de que não há ninguém te seguindo quando vier. Não venha em plena luz do dia. O policiamento nessa cidade não é bom, por isso optamos por morar e matar aqui. Mas não abuse disso, se o caso ficar sério, não vão ser os policiais daqui que irão resolver. - Ele deu uma pausa. - Não deixe rastros. Você sabe como fazer isso. - Ele deu dois tapinhas no meu ombro. - Agora vem, vou te ensinar como se usa essa coisa.

Coloquei o boneco lá dentro e meu pai me ensinou todos os procedimentos, inclusive os de limpeza pós-uso, que garantem que eu não seja presa.

Já passava das quatro horas da madrugada quando saímos de lá, e eu estava morta de fome.

- Tem algum lugar pra comer essa hora? - Perguntei dando uma rápida olhada para meu pai enquanto dirigia.

- Não moramos em cidade grande.

- Pai... E quando o ano acabar e eu precisar fazer faculdade? Eu... Ainda vou ter que morar aqui? - Disse hesitante.

- Não. Agora você está livre para as decisões que quiser tomar. Mas eu e sua mãe manteremos a nossa casa aqui...

Eu entendi o que meu pai disse, a casa seria um refúgio, para quando precisassemos nos libertar... Matar.

- Já pensou no que quer fazer? - Meu pai perguntou.

- Mais ou menos, acho que quero fazer Direito. - Respondi hesitante.

- Advogada?

- Não... Delegada.

- Ótimo, ninguém irá desconfiar de você...

- É...

Na verdade, eu queria ser Delegada porque eu realmente me interessava na área, nos crimes. Mas se a mente do meu pai era toda voltada para matar... Que assim seja.