🌊Único🌊

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Sentada frente a um grande piano de cauda em tom de obsidiana, uma jovem garota encontrava-se. Mesmo que frustrada, Jennie Kim tocava delicadamente as teclas com seus digitos. Sentia as teclas pressionadas tremerem quase imperceptivelmente sob seus dedos.

A brisa entrava por sua janela ao seu lado e brincava com as longas cortinas, para enfim balançar alguns de seus fios soltos de seu cabelo amarrado.

Jennie tentava incansavelmente todos os dias ouvir as notas que produzia em seu piano, mas a cada tentativa, cada nova decepção com as falhas, pareciam apagar mais uma parte de sua chama de esperança.

Para piorar, havia caído em uma rotina cansativa. Trabalhar em um sanatório sem horário fixo, chegar em casa e tentar novamente tocar o dito piano. Estava ficando exausta.

Chegou a poucos instantes em casa, deu sorte de poder ir embora antes de começar a anoitecer. Logo após entregar os comprimidos da paciente Lalisa Manoban, recebeu a noticias de que poderia sair mais cedo.

Descansando a cabeça sobre o painel e encostando no atril, Jennie levou seu olhar em direção à janela. Pensando sobre tudo mas ao mesmo tempo sobre nada. Sua mente navegava longe, trazendo e levando diversos pensamentos mas nunca atracando a embarcação na baía.

Diante de tantos sentimentos, Jennie permanecia dedilhando as teclas do piano antigo, porém bem cuidado. Enquanto ainda existir uma possibilidade, mínima que seja, ela manterá seu objetivo de ouvir ao menos uma vez uma nota sequer que produzir.

Esqueceu-se quando foi que isso tudo começou, por algum motivo. Não recorda nem mesmo do porquê de estar nessa condição psicológica. Frequentou diversos especialistas, porém recebeu a mesma pobre e irresoluta resposta.

"Isso é algo do seu psicológico. Deve descobrir qual o motivo e trabalhar nisso"

Eles não entendem o quão difícil e desgastante é para uma musicista não ouvir sua própria melodia? O quão cansativo é tentar lembrar o porquê de não ouvir suas notas musicais e não obter resultado algum? É como se ela não possuísse sentimentos, porque as notas musicais de um músico vem de seu coração, de seu sentimento. Eles nem ao menos lhe estenderam a mão.

Jennie é uma garota alegre e colorida, esbanjando alegria para todos a sua volta. Sua única maior tristeza vem quando chega em casa e é recebida pela imagem de seu piano ao canto da sala. Lhe dói em seu âmago. Vive diante de tantas cores, vive diante de tantos sorrisos, mas a partir do momento em que vê outro alguém produzindo uma melodiosa música com o instrumento que for, sente inveja e tristeza se alojar em seu corpo, escorrendo por seus olhos.

Isso virou uma obsessão, seu objetivo inalcançável. Sua adaga de cristal fincada sobre seu coração, aquela que só ela mesma pode retirar, torcendo para viver e não acabar por deixar seu corpo se afundar.

A questão em si, aquela mais esquecida, é que Jennie vive diante de tantas cores que se sente sufocar. Todas as cores vibrantes lhe agarrando pelo pescoço, contrastando com a alegria e brilho que trazem.

Acordando de seus devaneios, ela desiste por hora de dedilhar as frias teclas, e ao sentir a brisa mais uma vez em si, decide fazer uma loucura.

Voltaria a fazer algo que por vezes renunciava e apagava de sua mente.

Era hora de sentir a maresia.

Como se estivesse com medo de voltar atrás com sua decisão, Jennie junta as coisas que irá precisar de maneira rápida, sem ao menos trocar a roupa com a qual chegou em casa. Ansiedade sendo a gasolina que estava lhe movendo.

Logo estava em seu Cadillac Escalade prendendo sua esquecida amiga sobre o capô, a enorme prancha até mesmo estava empoeirada.

Ao passo em que entrou no automóvel logo ligou o rádio em uma estação qualquer. Já estava rodando para longe de sua casa, quando começou a tocar In Your Eyes, The Weeknd.

Meus Acordes Nas Ondas || Jennie KimOnde histórias criam vida. Descubra agora