A criatura da noite

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Na escuridão do mundo habito, sobrevoando em busca de minha presa. Sempre alertas, minhas antenas possuem sensores capazes de captar as substâncias químicas presentes no ar. Uma vez que identificado seu odor, sua derrota é iminente. A detecção dos humanos se torna fácil devido a constante liberação de gás carbônico por meio de sua respiração, e também por seu suor, responsável pela liberação do ácido lático, uma substância que me faz enlouquecer e perder a cabeça.

O zumbir de minhas asas denuncia minha chegada, trazendo terror aos humanos numa noite calada.

A nossa rivalidade é antiga, tão antiga quanto qualquer um possa imaginar. A minha existência é datada há 46 milhões de anos, porém, estimativas apontam que esse número pode ultrapassar os 170 milhões de anos. Após viver por tanto tempo, a contagem dos anos acabou perdendo seu sentido. Acompanhei o surgimento de sua espécie, e toda a sua trajetória rumo ao topo da cadeia alimentar. São seres admiráveis que sobrepujaram todas as outras espécies, todas, exceto a minha, a sua predadora natural. Mas não posso culpá-los pela estagnação, pois estou no topo desde os primórdios dos tempos.

Ao contrário dos humanos, a reencarnação é um fato comum em minha espécie. A cada morte, eu sinto um vínculo mais forte para com eles, um vínculo de ódio, um vínculo de rancor, rancor que só pode ser saciado com a sua morte. Não importa quantas vezes me esmague na palma de suas mãos ou me envenene, tenha certeza que não sairá impune, pois lembrarei de seu cheiro e retornarei para lhe assegurar uma vida de infortúnio.

Não menospreze a minha dedicação, já cheguei a ficar mais de 60 anos atormentando um único humano, ele era um ser bastante criativo que me proporcionou as mais variadas mortes. Essa rivalidade nos uniu, traduzindo-se nos 60 anos mais incríveis, sanguinários e memoráveis de minha vida.

Em boa parte do tempo, passo imperceptível aos humanos, durante a noite, seus olhos não conseguem acompanhar as mudanças de claridade, sendo o momento mais propício para atacar. Eu me escondo por alguns minutos e volto a rotina de tormenta.

Eu sou dependente de adrenalina e dos prazeres da carne. O fato de poder morrer a qualquer instante não é um empecilho, gosto dessa sensação, daquele momento insano entre a vida e a morte proporciona-me algo único que raça nenhuma poderia compreender.

O sangue não é imprescindível para minha sobrevivência, poderia muito bem me alimentar da seiva como os machos de minha espécie, mas isto não saciaria meu paladar. Nenhum outro ser é tão digno de meu paladar apurado. Seu adocicado sangue é uma droga alucinógena que me faz sentir poderosa, meu corpo entra em estado de êxtase, fazendo-o se estremecer em euforia.

Beber seu sangue não me satisfaz completamente, sinto um prazer imenso em ver seu desespero quando me ouve chegar, a canção noturna do meu bater de asas traz uma grande notoriedade ao momento. O retorcer entre os lençóis, o esforço em encobrir as orelhas, cabeça e calcanhares, não percebem que são presas fáceis para um predador psicológico. Sua audição não os deixa dormir, uma boa caçadora como eu, sabe esperar pacientemente o momento de dar o bote. Passo várias vezes próximo de seus ouvidos, desnorteando-os mentalmente, vejo-lhes se contorcerem de agonia a cada passada, o que atiça mais ainda meus instintos sádicos. Apenas um mero desafio, mostrando que "seu predador chegou".

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⏰ Última atualização: Aug 16, 2021 ⏰

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