Nem mesmo o toque familiar da escuridão ao atravessar foi capaz de silenciar o rugido nos meus ouvidos.
Pela distância, demoraria alguns segundos para ir de Sob a Montanha até a Corte Noturna. Mas meu poder - ainda enfraquecido da luta contra Amarantha - pareceu sentir meu pânico. Parecia entender que eu precisava me afastar o máximo possível daquela sacada... dela... ou faria algo que me arrependeria.
Surgi instantaneamente, como o estalo de um trovão, na sala de estar da Casa de Vento. E cai de joelhos.
Morrigan, as feições tensas e preocupadas, parecia estar no processo de andar de um lado para o outro com uma taça de vinho na mão. Como se estivesse me esperando. Ao me ver, seu rosto empalideceu, e a taça escorregou da sua mão.
Mas não ouvi o cristal se quebrando, ou ela se aproximando. Sua voz esganiçada e pesada falando comigo. Tampouco senti suas mãos nos meus ombros e no meu rosto, se certificando que estava bem.
"Ela é minha parceira," eu sussurrei, mas foi o suficiente para interrompê-la
Foquei nos olhos castanhos da minha prima, agora cheios de lágrimas.
"Ela é minha parceira," repeti mais alto. A frase parecia repuxar algo fundo no meu peito.
Mor pareceu absorver o que eu havia dito.
"Sua parceira? Quem...?"
Engoli seco. "Feyre. Feyre Archeron. Quem... quem nos salvou de Amarantha."
Mor esperou pacientemente por um minuto, e quando eu não disse mais nada, gentilmente segurou meu braço e me puxou para o sofá mais próximo.
E ali, com as estrelas como testemunha, contei à minha prima tudo.
Os sonhos que me acompanharam durante anos e me deram esperança quando eu estava completamente sozinho. A conexão que possibilitou nosso encontro no Calanmai, mesmo quando ainda era humana. O terror ao pensar no que Amarantha faria com ela se soubesse o que significava para mim, e mais tarde ao vê-la sendo destruída dia após dia.
O nojo e a culpa de tudo que fiz para ajudá-la. A admiração e algo mais, algo muito mais profundo, que ganhei por ela ao longo dos meses. E por fim, o desespero naqueles últimos instantes, quando achei que tinha-a perdido, quando a segurei pelo laço de parceria. Quando me agarrei na esperança que ela havia me dado - havia dado a todos nós - e puxei.
E por último... a conversa na sacada.
"E agora... ela está com o meu maior inimigo." finalizei com a voz rouca.
Mor segurava minha mão, como havia feito durante todo meu relato. Eu podia ver as perguntas passando pelo seu rosto, perguntas que eu não estava pronto para responder e havia propositalmente evitado. Como você teve tanta influência com Amarantha para ajudá-la? Por quê conseguiu ir até a Corte Primaveril?
Felizmente, ela não fez nenhuma delas. Mor somente suspirou, e ergueu as sobrancelhas. "Isso é... uma baita história. Eu sinto muito, Rhys.... por tudo. Mas especialmente por vocês terem se conhecido sob essas circunstâncias."
Encostei a cabeça no sofá. "Estou feliz por ela estar viva, e bem. É só isso que importa. Mas não consigo deixar de pensar que tudo isso foi uma piada doentia do Caldeirão."
"Não precisa ser. Nossas vidas, e a dela especialmente, não estão gravadas em pedra. O que aconteceu em Sob a Montanha é prova disso."
Assenti.
E ao compartilhar o peso do que havia acontecido naquela sacada... minha cabeça subitamente clareou. E eu me dei conta que estava com a minha prima. Conversando com a minha prima.
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Reunion
FantasyRhysand reencontra sua família após os eventos de Sob a Montanha. TW: menção a abuso sexual