32. Fear the future!

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Eu nunca pensei muito no futuro.

Mesmo antes, quando eu tinha casa e… Gerard, eu nunca parei pra pensar no futuro. Vivo dia após dia, sem pensar muito. Por isso mesmo fiquei pensativo quando Rosa, uma das alunas do grupo de alfabetização, me perguntou:

– Você já pensou em ser professor, Italiano?

Eu nunca tinha pensado. Nunca penso. Coisas a longo prazo não são comigo. Disse o que sempre dizia quando me perguntam do futuro:

– Não tenho dinheiro pra faculdade.

– Nem uma universidade comunitária?

Não respondi. Eu amava inglês, e me sentia satisfeito em contribuir com a comunidade ao ensinar todas aquelas putas a ler e escrever. Eu me sentia bem sendo professor naquele momento, mas eu pensei em seguir com isso… eternamente?

O futuro me assombra. O passado já fez seu estrago, não vale a pena revivê-lo. Mas o futuro? O futuro não foi vivido e isso me aterroriza. E se eu fizesse uma licenciatura em Inglês? E se meu destino fosse esse? Professor Iero. Muito bom. Muito bom? Merda, eu queria uma vodca.

Rosa era a minha aluna favorita. Tínhamos 15 alunos, eu e Martha (que era a outra puta que sabia demais e não se incomodava em ensinar). Não cobramos nada do pessoal; a maioria era velha e logo não conseguiria mais trabalhar vendendo o próprio corpo. Estávamos ali para formar proletários vazios; recepcionistas, entregadores, atendentes de telemarketing. Essas coisas. Empregos que putas conseguem arrumar. Mas, sinceramente, eu não podia reclamar — era melhor que usar crack e morrer aos 40 numa esquina lúgubre. E os alunos só queriam isso: uma vida simples, talvez filhos, um cônjuge, a felicidade vendida na tv. Não há porquê em querer muito. Rosa sabia disso muito bem.

Rosa era quase uma acompanhante de luxo. Foco no quaseela ganhava mais do que a gente, mas não ganhava tanto quanto uma acompanhante. Ela era uma imigrante que acabou conseguindo subir até NY, se envolvendo com pedófilos em seus melhores dias e com tráfico nos piores. Ela conseguiu fazer seu próprio nome, e era conhecida tanto pelos atributos físicos quanto pelas faculdades mentais: ela era muito inteligente. Sempre se destacava. Era ótima com números, sequências lógicas, charadas e coisas de escoteiro. Ela conseguia realizar tranquilamente uns 15 tipos de nó. Era analfabeta, claro, mas muito mais inteligente que eu. Aprender com ela era incrível, e ver seu progresso com as leituras era gratificante. Haviam boatos sobre o nome dela não ser mesmo Rosa. Ela me contou seu nome real depois.

Eu estava claramente me apaixonando por ela. E ela, inteligente que era, sabia.

Rosa tinha 28 anos. Sua carreira prometia logo ter fim. Por isso ela me procurou — para aprender a ler antes do fim. Ela guardara algum dinheiro e tinha uma casa que ela estava pagando há uns 10 anos, então queria ser letrada para manter uma profissão depois. Nos encontramos em sua casa algumas vezes, sempre apenas conversando. Por mim estava tudo bem ser apenas seu amigo. Ela era terrivelmente interessante. Ensinei-a um pouco de guitarra, apenas para passarmos mais tempo juntos. Eu poderia passar dias inteiros olhando seus olhos castanhos quase pretos, seus cachos fechados pintados de loiro, sua tatuagem de cobra nas costas. Dias tocando suas mãos macias, sorrindo com seu sorriso aberto com um dente amarelado, olhando seus lábios carnudos e suas sobrancelhas perfeitas se torcerem antes de um movimento arriscado no xadrez. Merda. Eu a queria.

– Vem comigo, Frank. – Rosa disse naquela tarde. As aulas aconteciam após minhas aulas regulares pela manhã e antes de nós irmos trabalhar, então sobrava um tempo para rendezvous. Ao menos isso. Fomos ao seu apartamento quase comprado.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora