Esse conto me foi passado de forma oral por minha mãe, agora decido colocá-lo no papel, talvez você tenha ouvido essa história de outro modo. Bem dizem "Quem conta um conto aumenta um ponto". Direto das noites antes de dormir, O Subioco.
Agradeço a minha mãe, Dona Antônia por me entregar uma coisa de inestimável valor, uma história.
O Subioco
Era uma vez um reino mergulhado em uma guerra contra um reino vizinho, sendo um reino mais fraco foi invadido e tomado pelos seus inimigos. Para Castigar ainda mais o reino que fora tomado, uma bruxa lançou uma maldição sobre o jovem príncipe transformando-o em um pintinho, feio, magro e sem penas. O jovem príncipe rejeitado e excluído vagou pelo reino de seu pai que estava destruído, ciscava pelo lixo dia após dia, largado em meio à miséria humana. Cansado daquela vida resolveu deixar seu reino de origem e vagar pelo mundo, já havia se acostumado com sua maldição.
Em uma das estradas mais sujas que havia ele em seu cisca-cisca encontrou uma aliança e horas depois avistou um aviso que dizia:
"Aquele que encontrar aliança perdida da filha do rei, ganhará sua mão em casamento!"
Ele muito se alegrou, agora tinha um novo objetivo, que era se casar com a princesa daquele reino que nem ao menos sabia o nome. Determinado seguiu o caminho para o imenso castelo que podia avistar de onde estava. E soube que sua trajetória seria longa, no caminho encontrou uma raposa que o surpreendeu saindo dentre as árvores da densa floresta que cercava aquela estrada.—Aonde pensa que vai, pintinho? — Perguntou a raposa, encarando-o com um sorriso aterrorizante.
Alegremente ele respondeu:—Estava no meu cisca-cisca, encontrei aliança da princesa e estou indo me casar com ela!
A raposa caiu na gargalhada, tão alto que as aves agitavam-se e tomavam o céu da copa das árvores.
—Você?! Um pintinho feio sem penas? Você não será nada além do meu lanchinho.
Pacientemente ele a encarava.
—Saia do meu caminho, estou pedindo educadamente. Tenho pressa! — ela se recusou e avançou. O pintinho balançava a cabeça em sinal de reprovação, então a raposa saltou. Abrindo sua asa direita ele disse:—Abre subioco e engole essa raposa!
Um buraco que havia debaixo de sua asa sugou a raposa para dentro, tal buraco debaixo de sua asa era seu único meio de proteção, e assim ele seguiu em seu caminho. Estava determinado a se casar com a princesa, afinal ele era um príncipe.
Em outro ponto do caminho mais a frente dentre as folhas secas surgiu uma cobra, que fez ele rapidamente recuar uns passos pelo susto.
—Nossa que criatura feiosa! — falou a cobra encarando-o. —Farei um favor a todos os olhos e vou te devorar! — a falta de medo chamou atenção da cobra.
—Senhora Cobra, vou pedir educadamente que se retire do meu caminho. Estou com pressa! — ele tentou contorná-la, mas ela o seguiu entrando outra vez em seu caminho. —Aonde pensa que vai?—Estava no meu cisca-cisca, encontrei aliança da princesa e estou indo me casar com ela!
A cobra gargalhou.
—Como que pintinho feio e sem penas vai se casar com uma princesa? Ainda mais porque não vai chegar lá, será o meu almoço. — dessa vez ele soltou uma risada e a cobra hesitou. –Já feri humanos com suas armaduras que te esmagariam com apenas um pé, como não iria matar você?! — a cobra avança no pintinho que de igual modo ergueu sua asa direita e disse:
—Abre subioco e engole essa cobra!
Um buraco se abriu e sugou a cobra para dentro, e ainda mais confiante o pintinho seguiu seu caminho destemido, antes enquanto era humano fora condecorado como cavalheiro por sua coragem única. Ao horizonte surgiu um desafio ainda maior, uma poça gigantesca de água ele não conseguiria passar, mas sem medo ergueu sua asa em direção a água.
—Abre subioco e engole toda essa água! — passaram-se alguns segundos e ele pode atravessar apenas na lama. Chegou à porta do castelo e os guardas nem notaram a entrada do bichinho até a sua chegada na sala real, diante do rei, chamou sua atenção até que o notasse com um piar estridente.—Majestade, encontrei a aliança de sua filha e vim casar com ela! — falou com coragem e curvando-se como sua asa sem penas enquanto era notado por toda corte. O rei não podia voltar com sua palavra e se ele achou de fato deveria casar-se com a princesa, já que não havia critério nenhum, apenas encontrar a relíquia perdida.
—Você deve está louco se acha que vou permitir que minha filha se case com um pintinho magrelo e sem penas!
—O soberano não pode voltar com sua palavra, então vamos marcar o casório! — falou destemidamente.
O rei não teve outra escolha senão marcar o casamento para uma semana a partir daquela data, porém ele não tinha nenhuma intenção de cumprir sua palavra.Ordenou que seus criados o colocassem no galinheiro, afinal era um pintinho. Ele não se importou durante a noite os galos ficavam bicando sua cabeça e lhe dando pisadas, quando esgotou sua paciência subiu no ponto mais alto e soltou a raposa que devorou todas as galinhas e galos e fugiu. Ao amanhecer, os criados o avistaram em cima de um monte de feno dormindo em paz.
O rei ao saber dessa notícia se admirou, mas ficou ainda mais empenhado em impedir o tal casório.
Naquela noite pediu o rei para que o jogassem no curral, igualmente ele não conseguia dormir, precisava fugir dos cascos que tentavam esmagá-lo, ao esgotar sua paciência ele soltou a cobra que picou todas as vacas e fugiu amedrontada. Quando amanheceu, os criados o encontraram sobre os corpos das vacas, o rei começou a se preocupar e estava ainda mais decidido a impedir o casamento.Então chamou o pintinho para conversar explicando que o reino não poderia ter pintinho como rei, já que um dia sua filha seria rainha, mas ele estava mais determinado do que nunca. O rei covardemente mandou que seus soltados dessem um fim a criatura ali mesmo. Muito ofendido o pintinho abriu sua asa e começou a inundar toda a sala, o rei estava prestes a se afogar quando gritou em plenos pulmões:
—Tudo bem! Você vai se casar com minha filha! Não nos afogue, por favor!
Então ele sugou toda água para dentro outra vez. Os dias se passaram e o rei não tentou mais matá-lo, a princesa estava muito atordoada ao saber que se casaria com um pintinho, ainda mais que parecia usar magia. Seu matrimonio seria uma piada em todo o reino, o sonho do belo príncipe desapareceu com o tempo e estava ela completamente lançada ao desespero por não ter em suas mãos as rédeas de sua vida. Viu a criatura de rabo de olho certa vez, jurou a si mesma que o desprezaria e não seria subjugada por um pintinho.A aliança há muito perdida, pertencia a uma profecia de que seria perdida e se não fosse encontrada o reino cairia em grande desgraça e que aquele que entrasse a aliança deveria receber do rei o seu bem mais valioso. O dia do casamento chegou, muitos reis, cavalheiros e muitos membros nobres do reino foram ao castelo para ver com os próprios olhos o casamento do tal pintinho feio e depenado.
O Padre realizou a cerimônia com muita vergonha em seu coração e disse as palavras mais pesadas que a princesa já ouvira.
-Pode beijar a noiva!
Ao olhar para a criatura medonha podia jura que viu em seu bico um sorriso, abaixou-se no nível da criatura e o beijou. Da direção dos noivos um vento forte soprou agitando as vestes das donzelas que riam baixinho e das mais velhas que se envergonharam, a capa dos cavalheiros igualmente esvoaçava. Um brilho como do sol cegou a todos por um momento e no instante segundo, desnudo, estava um homem de frente para princesa. Sua beleza era indescritível, seus cabelos despertavam inveja até nas moças, seu corpo estava na melhor forma que um homem pode chegar. A princesa agora estava na altura do peito do homem.
Como todos a sua volta ele estava perplexo, não sabia que um dia teria seu corpo de volta. Pelo que se recordava não era tão musculoso, sua beleza refletia cada olhar que recebeu, cada comentário sobre sua aparência e todo desprezo. Ele contou a todos como a maldição o alcançou e toda sua trajetória, de como superou a dificuldade de ser desprezado por ser quem era e afirmou que o que mais doía era que nenhum dos olhos que o olhou conseguiu ver quem ele verdadeiramente era.
O príncipe encantado que foi chamado de O valente, viveu com sua princesa pelo resto de sua vida e seus filhos e as demais pessoas que conheceu após o dia daquele casamento duvidavam secretamente de sua história, duvidavam do processo, mas não contestavam o resultado. Os que estavam no casamento jamais pelo resto de suas vidas julgaram alguém pelo que viam.
Foram felizes para sempre sendo exemplo de que não importa de onde se vem ou como é, nem o que dizem, sempre é possível alcançar os sonhos desde que não desista deles e acredite em si e saiba quem de fato você é. Fim!

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Subioco
Short StoryEm um mundo onde as aparências enganam, uma pobre criatura ira provar para si e para os outros que se pode ser mais do que aparenta. Com coragem e determinação um jovem pintinho trilhara uma grande jornada e somente no final revelara quem realmente...