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Quando Daniel e Silvânia entraram para a banda, ainda jovens, cheios de sonhos e energia, bastou pouco tempo para que a tensão entre os dois se tornasse evidente. Ele não escondia que a desejava - dizia com os olhos, com os gestos, às vezes até com brincadeiras que beiravam a ousadia. Mas Silvânia, embora percebesse e sentisse aquela mesma eletricidade, não se deixava levar.
Ela sabia exatamente quem era Daniel naquela época: um homem encantador, carismático, e completamente entregue à vida de estrada - com todos os excessos que ela trazia. Raparigueiro assumido, colecionava conquistas nos bastidores com a mesma facilidade com que conquistava o público no palco. Silvânia observava, calada, e decidia: não seria mais uma na lista.
E assim, mesmo com a química que fazia faísca entre os dois, ela manteve o coração blindado. A amizade floresceu, a parceria profissional se fortaleceu, mas o que poderia ter sido... ficou guardado num canto da memória.
Agora, vinte anos depois, o cenário é outro. A banda segue sua trajetória, eles continuam nos palcos - mas são outras pessoas. O tempo tratou de amansar os impulsos, de trazer feridas, aprendizados, silêncios. E naquela noite, em um hotel simples à beira da estrada, longe dos holofotes, os dois se encontram de um jeito diferente.
Vinho na taça, riso fácil, histórias do passado jogadas na mesa como cartas antigas. O que era faísca, agora é brasa. Silvânia o olha nos olhos e vê o mesmo Daniel de antes, mas com um olhar mais calmo, mais verdadeiro.
Mas nem tudo é simples como parece. O tempo mudou Daniel... mas nem tanto. Hoje, ele é um homem casado.