Começo com um conto. Um daqueles que parecem simples demais, quase óbvios. Mas o óbvio, percebi, nunca é inteiramente compreendido. Há sempre algo que escapa entre as linhas, algo que se esconde nos silêncios. Depois dele, o que se abre são minhas próprias dores - páginas escritas como quem sangra devagar, tentando dar forma ao que não cabia dentro de mim. São lamentos que nasceram da narrativa, mas logo se desprenderam dela, seguindo seu próprio rumo. E então, pouco a pouco, a prosa cede espaço à poesia. Talvez imperfeita aos olhos de quem lê. Talvez não soe como poesia alguma. Mas para mim, que escrevi cada verso como quem recolhe cacos, foi a única maneira de transformar silêncio em voz. Este livro nasceu quando eu ainda estava dentro de um relacionamento. Cresceu no meio do choque, das discussões, do não-dito. E só um ano depois, ao reler cada página, percebi que não estava escrevendo apenas um conto ou algumas poesias - estava processando a despedida, mesmo sem saber. No fim, não é sobre o conto inicial. Nem sobre as palavras que vieram depois. É sobre o caminho que tudo isso construiu: uma estrada que começou na dor, atravessou o luto e terminou na cura.

Ela floresceu onde a luz não alcança. Não por fragilidade - mas por escolha. Perséfone não é apenas a donzela arrancada da primavera. Hades não é apenas o deus que reina nas sombras. Entre o submundo e a superfície, nasce um vínculo feito de silêncio, desejo e destino. Uma releitura do mito sob outros olhos, onde a noite também gera vida. Releitura mitológica. Romance sombrio. Narrativa poética.