escritoria_reluzente
Dez anos. Às vezes parece uma vida inteira... outras vezes, uma única respiração presa no peito.
A minha mãe sempre dizia que a doceria era o coração da nossa família.
Eu só não sabia que um dia eu veria esse coração desabar diante dos meus olhos, engolido pelas chamas que tomaram tudo - menos a mim. Até hoje me pergunto por quê. Por que eu sobrevivi? Por que ela não?
As pessoas dizem que o tempo cura, mas ninguém avisa que algumas feridas apenas aprendem a doer em silêncio.
Foram dois anos olhando para paredes queimadas, cheiro de fumaça preso na memória e a sensação constante de que eu ainda ouvia a voz dela chamando meu nome. Dois anos lutando contra a culpa, contra a saudade, contra a mim mesma.
Mas no dia em que a reconstrução terminou, algo dentro de mim também renasceu. A nova doceria não era só um prédio. Era o que restou de nós duas.
E quando eu fiz vinte anos, percebi que, apesar da perda, eu ainda estava aqui. Ainda respirando. Ainda tentando. Ainda acreditando que, talvez, o destino ainda tivesse algum doce reservado pra mim.