imensos livros guardam algum detalhe sobre alguma Maria: as estrelas, a virgem, a prostituta, a que ungiu os pés de Cristo ou aquela que é comum ao mesmo que especial demais para não ser esquecida. Maria de nome conjunto ou só Maria como aquela vizinha ao lado, a vida também coleccionava algumas. Umas que costumam ser musas para alguns, mas não apreciadas por outros. Melhor, Maria Madalena - não aquela que teve sete demónios expulsos - não tinha muito o que contar, talvez por isso ninguém olhasse de facto e gostasse. E em seu silêncio, enquanto o nascimento de Jesus era comemorado nalgum canto, com cânticos alegres e corações cheios de esperança, a sua vida era picotada e recontada em trechos em que ela tentava perceber o que era o amor - não o amor de Cristo, porque, afinal, não era sobre ele -.

Nova Génesis, a cidade dos inúmeros segredos recontados por diferentes personagens num palco, esconde imensa coisa, entre elas a vida miserável de Amélia. Ou talvez fosse assim que a adolescente de dezassete anos teria começado o seu monólogo se, na primeira tentativa, não tivesse fracassado. Entretanto, porque cada tentativa gera uma consequência - ainda que essa tentativa não leve ao resultado esperado - uma dezena de pessoas concordaria que Amélia, aquela menina da primeira turma de biologia do último ano do ensino médio, não passa de uma vergonha para ser o ídolo do teatro. E talvez não estejam tão errados. Porque talvez, só talvez, entre tantos tropeços, caídas e recaídas, pequenas mentiras, algumas verdades, paixões, primeiras vezes e confusões, Amélia só queira contar a sua própria estória e seguir dando os seus passos.

A alegria de Domino naquela manhã escondia quase que perfeitamente o seu desespero do adolescente para que o tempo passasse o mais rápido possível e pudesse realizar o seu maior desejo de conhecer a pessoa com quem conversava há meses. O aglomerado de nuvens escuras que fizeram moradia no céu, enquanto ele se aproximava do local de encontro, tentaram sinalizar algo que Domino leu como a possibilidade de ter uma experiência engraçada para compartilhar futuramente. O que ele não esperava, porém, era que aquela alegria fosse convertida a uma experiência que estaria em sua memória permanente, independentemente das emoções que estariam diante dele. | capa feita pela Amanda (@amanz_an)

O ano de 2012 ficou guardado como o ano em que o mundo chegaria ao fim, mas, só em 2020 diversos mundos desvaneceram no espaço e, sobre isso, Minda entendia bem; não porque ela era uma grande viajante do tempo, mas, porque parte do seu mundo perdeu-se sem que pudesse lutar ou se despedir. Três anos depois, tropeça diversas vezes na tentativa de dar continuidade aos sonhos que não eram só seus, carregando memórias que ainda intensificam a dor das suas cicatrizes, mas, porque a sua vida não se resume na tempestade que a derruba quase todos os dias, ela tem que se desfazer da sua capa de professora de biologia e virar uma super-guia turística. Uma guia sem experiência e um manual. Uma guia com a mente cheia tal como a sua bolsa onde jaz uma colectânea de poemas, que ela não se permite ler. Uma guia que, navegando nas ruelas do seu país e nas coisas que elas escondem, experimenta os diferentes ritmos que só a vida sabe tocar.