Damn__Chr0matica
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Poucos nomes, ao longo da história da filosofia natural, foram tão firmemente entrelaçados à figura de Victor Frankenstein quanto o de Odette Valerius, cuja vida - marcada por brilho precoce, devoção clandestina e uma obstinação quase trágica - permaneceu, por décadas, oculta entre as margens dos relatos oficiais. A posteridade, no entanto, exige que tais sombras sejam dissipadas, ainda que por um instante, para que sua figura finalmente seja examinada com a gravidade e o assombro que lhe são devidos.
Seu encontro com Victor Frankenstein ocorreu quando ambos ainda eram jovens, e, desde os primeiros momentos, estabeleceu-se entre eles uma afinidade que muitos considerariam improvável. Victor, movido por fúria criativa e ambição quase febril; ela, pela serenidade metódica e pela busca constante de equilíbrio entre emoção e razão. Tal coexistência, desde cedo, os tornou inseparáveis. E embora houvesse entre eles um entendimento tácito - um afeto que beirava o inevitável - a vida tratou de aproximá-los e afastá-los com igual crueldade.
Em Ingolstadt, ela se tornou Odette Frankenstein, não por ato oficial, mas por destino. Compartilhavam quarto, livros, noites insones, teorias e certezas perigosas. Afeto e ciência se confundiam; seus estudos eram tão íntimos quanto seus silêncios. A parceria amorosa jamais foi quebrada - eles nunca se separaram. Pelo contrário: tornaram-se cúmplices, não apenas um do outro, mas das descobertas que julgavam capazes de alterar o curso da própria existência humana.
Odette era a única capaz de atenuar as tempestades mentais de Victor; e ele, o único que compreendia a voracidade intelectual dela.
Na penumbra daquele castelo estreito, cercados de instrumentos elétricos, frascos de substâncias voláteis e pilhas de anotações, começaram a arquitetar a ideia que mudaria para sempre suas existências: não apenas observar a vida, mas criá-la.