"A memória não esquece por vontade própria. A gente só aprende a não tocar muito fundo onde ainda sangra." Ele se lembrava de tudo com uma nitidez insuportável. O cheiro da fumaça na ilha, os olhos dos jogadores antes do primeiro disparo, o silêncio que tomou conta depois do último. Lembrava do irmão, tão certo de que conseguiria vencer. Ele o deixou acreditar nisso. Deixou que ele entrasse. E quando vestiu a máscara preta pela primeira vez, deixou também um pedaço de si do outro lado dela. Essa história não era sobre vencedores. Era sobre o que sobrava quando se sobrevivia: as rachaduras que surgiam, os pactos que se quebravam, os rostos que voltavam a assombrar a noite. Sobre o que acontecia quando se tentava esquecer, mas tudo insistia em voltar. Como uma música que não se pode mais ouvir, mas que ainda toca inteira dentro da cabeça. Ele chegou com fogo nos olhos, o homem que desafiou regras e destinos. E mesmo no meio do horror, fez a ilha parecer um pouco menos morta. Por um tempo, quase parecia haver saída. Quase. Mas a ilha não perdoa esperança. E ele... bem, ele sabia demais. Eles eram diferentes antes dos jogos. Agora, eram apenas o que restou. E ele se lembrava de tudo. Tudo muito bem.