Dizem que o mar nunca esquece. Que ele guarda os gritos de quem foi jogado às ondas, os segredos murmurados entre velas rasgadas, e os juramentos partidos sob luas silenciosas. Dizem que ele canta aos que escutam. Vênus escutou. A tempestade começara naquela noite, antes mesmo das nuvens se formarem. Começou quando o mensageiro do rei chegou à enseada com uma proposta indecente: paz em troca de um anel. Uma aliança entre trono e pirataria. Um casamento. Ela riu. Claro que riu. Riu tanto que os homens do navio acharam que ela estava zombando. E estava. Mas não recusou. Porque Vênus sabia que o mar era feito de correntes traiçoeiras. E, às vezes, era preciso seguir uma para destruir todas as outras. Naquela mesma noite, em Altherra, o príncipe Aaron Lontheus observava os corredores do castelo com a serenidade de quem nunca teve escolha. Já tinha selado tratados, comandado tropas, sustentado o peso de coroas que ainda nem tocavam sua cabeça. Mas aquilo... aquilo era diferente. Um casamento. Com uma inimiga. Com uma mulher que navegava sob a bandeira da caveira de Thal'ryn. Com uma chama em forma de gente. Aaron não protestou. Apenas fechou os olhos por um segundo mais longo que o normal. E então disse: - Se é pelo reino... que venha a pirata. Dois mundos diferentes. Dois tronos que jamais foram feitos para dividir o mesmo chão. Uma tempestade prestes a cair. O mar sussurra que todo império afunda um dia. Mas este, talvez, afunde em chamas.