reservabzt
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A antipatia parecia mútua. À primeira vista, não havia espaço para aproximações - apenas tolerância forçada e silêncios estrategicamente mantidos. Michele chegou acompanhada, com o coração distraído. Jesica, por sua vez, não permitia que nada a atravessasse: nem gentilezas, nem sorrisos, tampouco sentimentos.
Mas certos sentimentos não pedem licença. E quando surgem, são impossíveis de ignorar.
Um beijo fora de hora - imprudente, inesperado, inevitável - bastou para romper a ilusão de distância. Desde então, nada voltou ao lugar. Vieram os desencontros, as discussões disfarçadas, os olhares longos demais e os gestos interrompidos. Havia algo ali, mal contido entre o orgulho e o medo.
A presença de terceiros apenas evidenciava o que nenhuma das duas ousava nomear: ciúmes, desejo, confusão. Jesica se escondia sob a rigidez de uma máscara; Michele evitava qualquer pergunta que pudesse revelar demais. Ainda assim, a verdade vazava - em silêncios, em toques hesitantes, em ausências que doíam mais do que deveriam.
Até que, numa noite sem testemunhas, Jesica enfim cedeu. Com a voz firme e os olhos cansados de negar, disse o que o corpo gritava havia muito tempo:
- Fica comigo, Michele. Eu quero você.
E talvez tenha sido ali o verdadeiro começo. Ou, quem sabe, apenas o fim da negação.