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Tem dias em que o mundo Ă© alto demais.
Eu nunca fui como a Bella.
Ela é o tipo de pessoa que o mundo entende, que se encaixa, e ainda insiste em dizer ser diferente. Que consegue conversar sem tropeçar nas próprias ideias, que sabe quando sorrir, quando desviar o olhar, quando dizer a coisa certa.
Eu sou....outra coisa. NĂŁo sei como explicar.
Ăs vezes, eu atĂ© tento. Mas quando começo, as palavras vĂŁo longe, como fios de poste em alta tensĂŁo, soltos e perigosos. Perco nos detalhes, nas texturas. E quando vejo, ninguĂ©m mais estĂĄ me ouvindo.
SĂł que eles ouviram.
Os garotos.
Eles sempre ouviram.
De um jeito estranho, meio torto, Ă s vezes pesado demais. Eles nĂŁo olham pra mim como olham pra Bella. Olham como se eu fosse um enigma, um desafio. Como se quisessem decifrar o que nĂŁo entendem. Eu nĂŁo sou um desafio. Eu sou sĂł eu.
E, mesmo assim, eles insistem, mesmo quando eu me afasto, mesmo quando invento desculpas. Como se nĂŁo ouvissem meus "nĂŁo". Como se nĂŁo percebessem que cada palavra deles pesa como pedra dentro de mim.
Mas eles ouviram também.
No começo, achei que era imaginação.
Um daqueles momentos em que a mente faz truques, cria histórias para ocupar o vazio. Mas não era invenção.
Eles me olhavam como se me enxergassem de verdade. Era como se estivesse lendo algo.
E eu senti medo!
Porque quando alguĂ©m vĂȘ vocĂȘ de verdade... Ă© impossĂvel se esconder depois.