Autora_Isa8374
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Concluído ✅
Um carro. Da cidade, provavelmente. Ninguém da vila andava com vidro tão espelhado e buzina afinada.
Rodo não se assustou, mas parou por reflexo. Fiquei esperando que o carro passasse direto, como todos os outros... mas ele desacelerou ao meu lado.
A janela abaixou devagar.
E foi aí que tudo mudou.
- Ei - disse uma voz feminina, firme, sem ser grossa.
Virei o rosto, e quando meus olhos encontraram os dela... algo dentro de mim trincou.
Por um instante, não consegui responder. A visão dela me atingiu com força: cabelo preso num coque solto, óculos escuros empurrados pro alto da cabeça, e um sorriso leve nos lábios. Mas não foi o rosto que me desmontou. Foi o cheiro.
Vinho.
Doce, amadeirado, maduro. Como um vinho tinto que ficou guardado por anos na garrafa perfeita. Era um cheiro que me invadiu antes de eu conseguir raciocinar. Meus músculos travaram. Meus olhos arderam.
O imprinting.
Eu sabia exatamente o que era. Meu corpo também.
Tudo em mim reconheceu aquela mulher como minha alfa. A alfa que meu instinto esperou em silêncio desde a primeira vez que senti meu próprio cio. A alfa que encaixava no meu cheiro como o fim de uma frase que nunca fez sentido até agora.
- Ah? - respondi, tentando fingir naturalidade, mas minha voz saiu baixa. Baixa demais.
Ela não pareceu notar nada. Apenas sorriu de leve e perguntou:
- Você sabe onde fica o sítio da dona Lurdes?
Eu ainda estava tentando não tremer. Não desmaiar. Não pular no carro. Não chorar. Mas consegui responder:
- Ah... vocês são os netos da dona Lurdes, né? Fica ali, ó - apontei com a mão direita. - Naquela entrada de cerca branca.
- Obrigada! - respondeu, e seus olhos brilharam num reflexo do sol.
E então... ela virou o rosto. O carro ligou. E se foi.
- Ela não sentiu nada... - , olhando de novo pro caminho que o carro seguiu. - Só eu.
O vento bateu mais forte, e eu puxei a rédea, falando baixinho pro meu cavalo:
- Vamos pra casa, Rodo.
E ele