Lydia_Tavares
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Havia aprendido desde cedo que a medicina não curava todos os males; alguns, apenas se extinguiam com o silêncio. A cidade o reverenciava como um dos mais competentes clínicos de sua geração, e ainda assim, dentro das paredes do lar, ele era reduzido a pouco mais que um espectro - alvo de escárnio, de desprezo e de olhares que mediam seu valor pela fortuna que não possuía.
O matrimônio com Hedwig Brandt fora um contrato, não um enlace. Ela trazia o dote, ele, o prestígio. Jamais houvera ternura, apenas convenções sociais cumpridas com frieza cirúrgica. Nos salões, ela sorria como uma imperatriz, mas em casa sua língua era lâmina, e cada palavra parecia destinada a lembrá-lo de que não passava de um homem tolerado.
Algumas horas depois de seu último suspiro, o telegrama chegou: "Professor Brandt, sua presença é requisitada com urgência em Bergthal. Mortes inexplicáveis assolam a comunidade. Solicita-se investigação médica imediata."
Wilhelm fechou o papel devagar, como quem sela um destino. Viena ficava para trás, com seus salões de ouro e suas memórias sufocantes. Diante dele, a promessa de uma aldeia remota e um enigma.
Ele não imaginava, então, que não investigaria apenas cadáveres, mas encontraria, em meio às montanhas de Bergthal, uma mulher cuja escuridão rivalizava com a sua.