A nova vizinha é a novata da escola. É a Becky. Ela chegou com a família - pais e uma irmã mais velha, a Yoko - e foi direto morar ao lado da minha casa. Na escola, caiu no mesmo grupo. Meus amigos, o Heng e a Nam, adoraram ela na hora. Fizeram amizade fácil. Mas comigo, a Freen, foi diferente. Eu sou fechada. Fico na minha. Um segredo grande entre minhas pernas me faz ser assim, retraída, e acabo sendo seca com todo mundo. Com a Becky, piorou. A gente se estranhou de cara. Ficamos sendo inimigas ali, no meio dos mesmos amigos. Ela me provocava de um jeito doce, eu respondia com grosseria. O Heng e a Nam viviam perguntando se tinha algo rolando entre a gente. A gente negava na hora. Era um jogo de desprezo. Eu percebia ela me olhar, mas ela nunca falava nada. Até que chegou uma outra menina na escola, e começou a dar em cima de mim de um jeito óbvio. Foi aí que eu vi. Vi o ciúme no olhar da Becky, mesmo ela tentando esconder. Aproveitei. Deixei a outra menina chegar perto, só para cutucar a Becky. Só para ver a reação dela. A coisa foi esquentando, uma briga silenciosa, até a festa na casa do Heng. No jogo da verdade ou desafio, alguém fez a pergunta certa. Ou o desafio errado. A Becky perdeu as estribeiras. Explodiu de uma vez. Foi assim. A raiva que a gente guardava virou outra coisa, bem ali, no meio da sala, com os amigos torcendo e rindo. Tudo mudou naquela noite. Enquanto isso, na nossa rua, minha mãe viúva, a Faye, e a irmã mais velha da Becky, a Yoko, começam um flerte bem devagar, trocando favores e olhares longos entre uma casa e outra. Mas minha história é só com a Becky. A inimiga que virou vizinha, e depois, virou tudo.