Maraisa sempre acreditou que se conhecia por completo. Mundialmente famosa, dona de uma carreira sólida, agenda lotada e prêmios incontáveis, ela era o retrato da disciplina. Cada passo da sua vida tinha sido cuidadosamente planejado, como se sentimentos fossem obstáculos a serem evitados, e surpresas, ameaças disfarçadas. Em seu mundo, não havia espaço pra descontrole, pra paixões inesperadas ou pra alguém que balançasse sua estrutura tão milimetricamente construída. Ela já tinha tudo: fama, sucesso, respeito. Mas faltava o que ela jurava não precisar. E foi aí que Alicia apareceu. Alicia, com seu jeito sereno e firme ao mesmo tempo, tava só começando sua jornada na música. A voz dela não era só bonita - era crua, real, carregada de emoção. Cada nota parecia vir direto do coração, e cada verso era uma confissão doce, mas corajosa. Quando recebeu a oportunidade de abrir um show com Maraisa, ela sabia que aquele era o primeiro passo de um sonho. Não fazia ideia, no entanto, de que ela própria seria o maior imprevisto na vida da estrela. O encontro das duas foi como faísca em pólvora seca. Maraisa, que vivia protegida dentro de um mundo blindado, se viu atravessada por algo que não podia nomear - e muito menos controlar. Alicia não fazia força pra impressionar. Ela simplesmente existia. E, nessa existência inteira e intensa, bagunçava tudo que Maraisa achava que sabia sobre si. A princípio, Maraisa tentou ignorar. Se distanciou, se blindou, fingiu que era só mais uma artista promissora. Mas era tarde demais. A presença de Alicia era uma tempestade mansa: silenciosa, mas devastadora. Ela não gritava, mas ecoava. Não implorava atenção, mas ocupava espaço. E, no meio desse furacão silencioso, Maraisa se viu rendida. Talvez, no fundo, ela nunca tivesse se conhecido de verdade - até olhar nos olhos de Alicia e se reconhecer pela primeira vez.