AVISO: É ESTRITAMENTE RECOMENDADO QUE OS PASSOS DESSE MANUAL NÃO SEJAM SEGUIDOS. Sempre aparentei ter uma vida comum. Casa comum, família comum, interesses comuns. Se você perguntar à maioria das pessoas, como aos meus pais, eles dirão que é a vida perfeita. Por que dar motivo para os outros falarem? Só há um problema: eu não sou um garoto comum. Ou pelo menos, não mais. E isso é o que me trouxe até um precipício, onde aguardo a coragem para me jogar. Claro que minhas atitudes impulsivas agilizaram o processo, como o fato de eu ter saído de casa no meio da noite sem aviso nenhum para procurar um garoto que também sumiu sem motivos aparentes, e o fato de agora eu estar mais distante dele do que nunca. Ou as duas almas tão deterioradas quanto a minha que me apareceram no meio dessa viagem inesperada e feita em um lapso de valentia. Mas, com o perdão da referência, sempre há lugar para mais uma alma problemática. Como a sua. E já que agora você faz parte disso, claro que tem direito de pensar que talvez não faça sentido escrever isso, afinal. Não é como se algo mais faça, mas essa não é a questão. A questão é o abismo que cresce cada vez mais dentro de mim. A questão é o fato de que a morte já parou de ser assustadora para mim e se tornou um conforto. Você pode entender que a questão é que esse manual, além de ensinar passo a passo como terminar igual à mim, é algo que representa mais do que um simples diário ou coisa do tipo. É mais que um relato detalhado de como eu me levei à auto destruição em uma única viagem, de uma representação quase perfeita da mente conturbada de um adolescente e até mais do que a procura de um motivo para viver. Meu nome é Leonardo Silva, e essa é, principalmente, minha carta de suicídio.

Visto de longe, Eunice tinha a vida perfeita. Bem humorada, bom poder aquisitivo, um namorado lindo, uma família perfeita e todo o mais que configuraram o sonho de qualquer adolescente. Porém, só quem a conhecia de verdade sabia que seu mundo caia aos pedaços. Com os pais em uma guerra civil declarada, a mãe desempregada, o pai perdendo a campanha eleitoral, problemas de auto estima e um término, ela não suportava mais o destino que lhe havia sido entregue. E tinha a droga do próprio nome que ela odiava. De longe, era o que mais a irritava. Sempre presa nas mesmas escolhas, nas mesmas acomodações, na mesma vida, não via pontos positivos em ser ela mesma. Quando sua tia há muito desaparecida lhe apresentou um incentivo para que ela parasse de apenas reclamar - nada menos que uma viagem para a Grécia - e tentasse de uma vez colocar sua vida nos trilhos, ela viu a oportunidade que há muito esperava. E a agarrou com tudo. Finalmente, ela podia ver novos horizontes. Novos amigos, novos sorrisos, novos problemas e todo o mais que uma ilha no norte do mediterrâneo podia proporcionar. Mas como em tudo na vida, essas novidades aplicavam em inúmeras consequências. Mas ela esperava que fossem boas. Ela manteria a fé, certo? Ela aprenderia a se reconstruir. Ela tentaria se conhecer. E dessa vez, de verdade. Por ela mesma.