WhiteIcy
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Ravenswood, Londres...
Minha Querida Eveline,
Cheguei a Londres envolta no manto invisível, mas pesado, da minha viuvez. Os mesmos edifícios de pedra, o mesmo rio lamacento, os mesmos salões que outrora ecoavam com os meus passos mais leves, agora observam a mulher em que me tornei: a Viúva Ravenscroft. A sociedade vê uma mulher fria, um pouco excêntrica, que prefere a companhia dos seus livros e das suas plantas aos frívolos sussurros da alta sociedade. E eu deixo que vejam. É a minha armadura.
Mas sob a superfície, os fantasmas do meu passado aguardam. O maior deles tem o rosto de Anthony Bridgerton. O mesmo rapaz com quem rivalizei em corridas a cavalo e com quem partilhei um beijo, numa época em que o verão era eterno e a dor, uma desconhecida. Agora, ele é o Visconde, um homem talhado em gelo pela tragédia, e o seu olhar cruza-se com o meu não com a doçura da memória, mas com a frieza de um estranho.
Entre nós, ergue-se uma década de silêncio, os ecos da paixão que ele enterrou com o seu pai e eu abandonei num casamento de conveniência - um casamento que, embora gentil, me deixou a acreditar que o fogo do desejo não era para mim. Mas o fogo, minha querida Eveline, quando não se extingue, transforma-se em brasas. E cada encontro com Anthony - um duelo de olhares num baile - é lenha que reanima as chamas.
Ele evita o amor, temendo a sua dor. Eu anseio por ele, duvidando do meu próprio valor. E no meio deste campo de batalha de emoções não resolvidas, a minha única fuga é o meu santuário: a minha biblioteca, a minha estufa, e o ato solitário de traduzir as minhas cores e desejos mais secretos em tela.
Esta é a mulher que regressou a Londres, Eveline. Não a donzela ingénua, mas uma viúva com os segredos de um coração que nunca deixou de pertencer ao homem que agora a evita. E algo me diz que este inverno londrino está prestes a ser consumido pelo fogo que ambos carregamos.
Tua, com uma expectativa nervosa,
Arabell