porcariazinha
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Gabriele Oliveira tem dois empregos, uma pilha de boletos e um sonho artisticamente inviável: virar ilustradora. Até lá, ela sobrevive com café requentado, turnos noturnos limpando o Allianz Parque e desenhos feitos às pressas nas pausas ― quase sempre do Palmeiras, quase sempre com saudade de uma vida que poderia ser outra.
E então ela comete o maior erro da vida: esquece o próprio caderno de esboços no vestiário do time. Aquele caderno. O que tem desenhos de todo o elenco, incluindo um ― bem detalhado, por sinal ― de Emiliano Martínez, o volante uruguaio que corre, intercepta, protege e... nunca leva os holofotes. Eles sempre ficam com astros como Raphael Veiga.
Emiliano está acostumado com isso. Ele é o cara do trabalho sujo, o que faz o time respirar, mas que raramente tem o nome gritado nas arquibancadas. Fora de campo, é reservado, quase invisível ― até encontrar o caderno de Gabriele. Os desenhos dela o deixam curioso. Primeiro, por como ela o enxerga em meio a tantos jogadores mais "importantes". Depois... por quem ela é, de verdade.
Quando ele devolve o caderno, Gabi tem certeza de duas coisas:
1. Que vai morrer de vergonha antes de conseguir agradecer.
2. Que o sorriso de Emiliano Martínez é perigoso.
A amizade improvável começa entre desculpas e mensagens trocadas no meio da madrugada. Mas entre cafés baratos, confidências sobre sonhos e o medo mútuo de não ser suficiente, Gabi percebe que o volante invisível talvez entenda melhor que ninguém o que é lutar por um espaço no mundo.
E quando ele a convida para um treino informal num campo de várzea, dizendo que quer ensiná-la a "bater na bola" (grande desculpa, aliás), Gabi percebe que está a um passo de se apaixonar por alguém que vive cercado por tudo o que ela teme: holofotes, torcida, boatos.