Um texto é muito mais que um conjunto de palavras. Ele é sentimento, ele é voz, ele é vivo. Todo texto possuí um subtexto, todo texto está destinado a conter mais do que as palavras aparentam. Vozes silenciadas, um olhar que dura mais do que o necessário, um toque naquele momento exato... Sentimentos escondidos nas entrelinhas a sete chaves que nem você mesmo consegue - ou quer - acessar. E isso, elas entendem até bem demais, afinal, mais de uma década de uma carreira de sucesso não é para muitos. Depois de tantos palcos divididos e suas vidas entrelaçadas, Myra e Fabi não precisam de muito mais que um olhar para se entenderem dentro e fora de cena - o que era ótimo, até não ser mais. A cumplicidade de anos se tornou refúgio para ambas, o único lugar que elas sabiam estarem completamente seguras para serem elas mesmas - e não as personas da mídia -, a Myra e a Fabi, as melhores amigas, e nada mais. Mas quando sentimentos há muito tempo escondidos e esquecidos decidem retornar para atormentar e bagunçar seus pensamentos, não há mais como se proteger das entrelinhas que o destino escreveu. Entre textos, farpas, silêncio, suor e palavras não ditas, renasce um jogo perigoso, onde a aposta que está na mesa é seu próprio coração - e nenhuma das duas está preparada para perder. Porque quando a ânsia de ter supera o medo de perder, é alí que nada se pode mais esconder.

Fabi Bang é a fotógrafa mais requisitada do país. Visionária, arrogante e indomável, construiu uma carreira sem concessões, clicando apenas aquilo - e quem - julga digno de sua lente. Por isso mesmo, aceitar fotografar Myra Ruiz, uma atriz das bolhas minúsculas e irrelevantes do teatro e da dublagem, foi uma humilhação. Pressionada pela editora-chefe da Vogue Brasil para manter boas relações comerciais, Fabi engole o orgulho. Afinal, não aguenta mais ouvir falar de Wicked - um hype ultrapassado, uma febre reciclada. Myra não é estrela, é uma repetição. E posar para a câmera, claramente, não é o forte dela. Mas nada no olhar de Myra é simples. Forçadas a viajarem por diferentes locações para um ensaio sem retoques, onde tudo precisa ser cru, natural, real, Fabi se vê cada vez mais provocada por algo que não entende: a fragilidade pulsante de Myra, sua doçura desarmada, seu silêncio gritante. E Myra, sufocada sob a expectativa de representar a mulher forte que todos esperam, sente o chão ruir a cada clique da mulher que a observa e exige como ninguém jamais ousou. Entre flashes, farpas, silêncio e suor, nasce um jogo perigoso entre o que se mostra e o que se sente. Porque quando a lente queima, não é só a imagem que arde - é o desejo, é a dor, é tudo aquilo que não se pode mais esconder.