Lala_venus
"Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pela retina desses olhos lindos
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa 𝐝𝐢𝐬𝐫𝐢𝐭𝐦𝐢𝐚
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre
Lá da boemia"
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Antes da floresta de pedra, antes do barulho da cidade e das buzinas num trânsito incessante da grande São Paulo, havia o silêncio...
Não o silêncio da ausência, esse veio três meses antes, quando Tainá assistiu seu casamento acabar e se viu com o status civil de "Divorciada" antes dos 25 anos. Esse silêncio, era o silêncio que antecede o encontro, de si mesma, de outro alguém, de outra era. O vácuo exato de algo prestes a existir entre uma respiração e outra.
Tainá saiu de Fortaleza para São Paulo com coragem embutida na mala de 35kg e o coração amassado como roupa de linho dobrada com pressa. Deixou pra trás os ventos quentes e acolhedores do litoral, uma irmã e pai amorosos e as mesmas possibilidades de um encontro indesejado a cada esquina de uma cidade pequena, para abraçar algo novo, um estágio bom numa escola ótima em São Paulo, uma oportunidade promissora de expandir seu negócio e talvez - só talvez, uma oportunidade nova de sentir de novo.
Cecília, por sua vez, só saía de São Paulo quando ia pra Minas e de lá, voltava pra São Paulo. Era discreta, vivia como se tivesse vindo para a terra só de passagem e logo fosse embora. Seus dias eram feitos de tangos mal traduzidos, cigarros, vinhos, rolês duvidosos na Augusta, olhares longos demais para quem nunca dizia o que sentia e longos episódios de introspecção, os quais ela chamava de "momentos de recarga emocional para prevenir que eu enlouqueça".
Elas acabaram se batendo no mesmo andar do mesmo prédio, num dia qualquer, uma hora qualquer. Por pura obra do desequilíbrio. O descompasso. O tropeço. A verdadeira 𝐃𝐢𝐬𝐫𝐢𝐭𝐦𝐢𝐚