Vanessa V
wtf_Neptune
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Seul, 1976.
A cidade ardia entre discursos inflamados e cassetetes impiedosos. Enquanto os palanques se multiplicavam, um traço de batom vermelho cortava a bruma da história - feito cicatriz, feito bandeira - carregando em si o desejo, a ousadia e o silêncio de quem nunca foi convidada a existir.
Vanessa V era uma travesti que se apresentava num cabaré para sobreviver e gritava para não ser esquecida. Entre aplausos carregados de fetiche e olhares que jamais se sustentariam à luz do dia, ela se erguia como símbolo e carne: revolucionária, artista, mulher. Sua existência era um ato impensado de resistência num país onde corpos como o dela só eram aceitos quando disfarçados de espetáculo.
Do outro lado da cortina, Jeon Jeongguk - o candidato imbatível ao cargo de governador de Seul - se vê diante daquilo que sua carreira jamais permitiria: o próprio espelho. Casado, admirado, moldado por discursos que nunca escreveu, ele vive para sustentar a imagem de um homem que já não reconhece. Mas basta ouvir Vanessa, sua voz, sua luta, sua desobediência delicada, para que algo dentro dele comece, aos poucos, a ceder.
O que começa com olhares desviados se transforma em noites escondidas numa casa de campo, onde o mundo inteiro parece suspenso entre a fumaça dos cigarros e o suor dos corpos que já não sabem mais fingir. Mas nem mesmo o desejo mais ardente sobrevive ileso à política, à imprensa e à covardia.
Vanessa V é um romance sobre os amores que não cabem nas molduras sociais. Uma história sobre o que resta depois do amor: a memória, a mágoa e a voz que insiste em cantar - mesmo quando ninguém mais escuta.
"Porque alguns amores não terminam.
Eles apenas sobrevivem, em silêncio, dentro da gente."
°Jk;
°Representatividade;
°Luta por direitos humanos;
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