sarahcrystynah18
Hogwarts parecia respirar de forma diferente naquele outono. O ar estava mais denso, os corredores mais frios, e as sombras demoravam mais tempo do que o normal para se dispersar. As velas flutuantes piscavam com inconstância, como se até elas hesitassem em iluminar os segredos que se acumulavam entre as pedras antigas. Hermione Granger caminhava com passos rápidos, os livros contra o peito e o queixo erguido - como se o foco nos estudos ainda fosse escudo suficiente contra a guerra iminente. Mas mesmo com a mente saturada de feitiços e fórmulas, ela percebia.
Ela sempre percebia.
Draco Malfoy andava como um fantasma em carne e osso.
A postura ainda era arrogante, mas havia algo torto em sua silhueta, como se o orgulho estivesse sustentado por cacos de vidro. Ela o observava - à distância, é claro. Por trás dos corredores, refletido nas janelas frias, ou à margem do Lago Negro, quando ele achava que estava sozinho. Ele olhava para o nada como quem ouve vozes. Como quem carrega o fardo de uma escolha errada, ou pior - uma escolha inevitável.
E aquilo a perturbava mais do que deveria. Havia marcas invisíveis em Draco Malfoy. Não eram cicatrizes na pele, mas fendas na alma, nas quais ele tentava esconder algo que Hermione ainda não compreendia - mas que sentia. Instintivamente. Como um feitiço antigo sussurrando nos ossos. Ela não queria se importar. Mas havia algo de monstruosamente belo em vê-lo desmoronar em silêncio. E, talvez, no fundo, ela soubesse: quando finalmente caísse, ele não cairia sozinho.