Sexta-feira, o dia preferido daqueles que estudam e tem uma vida atribulada, assim como Victor, que passara a semana envolto em ternos e roupas sociais, carregando jargões jurídicos no escritório renomado de sua família. O homem, que desde os sete anos sonhava em prosseguir na carreira jurídica, não traçou apenas o seu anseio pela profissão da família, mas o panorama de sua vida, colocando-se em uma caixa, podando suas arestas e se moldando a fim de obter seus objetivos. Todavia, no ato de delimitar o que lhe era permitido ou vedado, esquecera do essencial: o amor. O que o estudante de direito não contava é que entre as diversas paredes da Universidade Presbiteriana que frequentava, em um momento de pura descontração e desinteresse, reconheceria a pessoa que lhe exporia o que subjugara como desnecessário durante toda a sua vida. Desde aquele fatídico dia, ele e Mariana se tornaram amigos, e ele passou a amá-la de forma velada. Então, em uma sexta-feira comum, a musa de Victor o convida para lhe fazer companhia a noite, ainda que sem grandes pretextos para tal. O convite de proximidade endereçado fora recebido sem protestos, uma vez que a humanidade que Mariana trajava e esboçava, em especial quando exercia suas hipérboles, a tornava, além de apaixonante, a pessoa mais agradável aos olhos do amigo. Agora, quinze anos depois de estabelecer o destino de sua vida, Victor se encontrava perplexo diante das perguntas que formulava em razão do sentimento, afinal, ele se perdia por entre a amiga, que fazia com que os sonhos mais abstratos se tornassem realidade. Naquela noite de sexta-feira, rodeados por estrelas, detalhes afáveis de uma relação natural, dual e meticulosa, Victor contemplou sua melhor amiga, e amor de sua vida, em sua forma mais pura, semelhante as estrelas que compunham a noite pouco estrelada. Mas Victor não precisava se ater aos pontos luminosos no céu, pois tinha ao seu lado a pessoa mais radiante que conhecia: Mariana.

Dois mil e vinte. Esse ano foi anunciado com um fervor diferente para Júlia, que com seus vinte e um anos, estava indo para o segundo ano da faculdade de Ciências Biológicas. Ela se lembra da noite da virada, celebrada ao lado de sua família em Fortaleza, em que juras de dias melhores e felizes foram expostas... Engraçado pensar que, um ano depois, a garota via todas aquelas promessas e juras de felicidade como palavras vazias. Suas esperanças para o ano seguinte estavam quase nulas, não morrer era seu único desejo. Nada demais havia acontecido, se olhasse positivamente, todavia, tudo que podia ter sido negativo, havia ocorrido: perdera um ano da faculdade devido as aulas online, enterrara sua avó, que falecera após sete dias na UTI com Corona vírus, estava há meses sem ver sua mãe, e seu namoro estava se aproximando da linha tênue que os tornaria estranhos. Júlia brincava com suas amigas dizendo que havia uma conspiração internacional pairando sobre ela. Mas não era algo único, infelizmente, os eventos ruins estavam assolando diversas famílias, e as ideias pré-prontas de que esse ano fora de aprendizado além de desagradarem a garota, a irritavam. Por isso, não via motivos para se reunir com a família de seu namorado para receber o ano seguinte; não havia motivos a serem celebrados, não havia futuro, pois, seu presente não podia ser considerado existir. Contudo, o ano mais turbulento de sua vida havia preparado uma surpresa o último dia: a esperança.

"Eu consigo ver as cicatrizes que você tanto esconde, Shawn." iniciada em: abril/2019 concluída em: julho/2022 aesthetics por: @Autoraharvey capa por: @idmkstiles escrita por: @umramodejoaquim plot por: @d-r-u-g-s

Todas as relações são pautadas em contratos, mas há aquelas que apenas existem pois decorrem desses, nessa categoria se enquadra a relação de Aiyra e Shawn, estritamente profissional, como afirmava repetidas vezes a mulher anos mais velha. Entretanto, devido a um convite inusitado, a relação de subordinado direta se extingue por uma semana e um relacionamento falso vigora por esse mesmo período. Aquilo só precisava durar por uma semana, nada mais, ele receberia a bonificação acordada e ela exporia para toda a família que superou o fim do relacionamento com Lindsay, visto que já havia três anos da dura separação. Mas como em todos os contratos, há cláusulas que fogem até da interpretação de jurisconsultos, e as consequências passam a vigorar sem que as partes tenham ciência. Por isso, após a semana na Califórnia, Aiyra e Shawn passam a conviver, mutuamente, com seus fantasmas, letras pequenas de grandes contratos, incerteza de futuros distintos e com os laços incompletos que construíram. Contratos são capazes de estabelecer relações, mas e os laços invisíveis que nos unem as pessoas, o quão forte são para suportar a inconstância da vida? Capa por: @vividx- 1ª versão iniciada em: abril de 2019 2ª versão iniciado em: setembro de 2020

Eu, apenas eu. sem letras maiúsculas para não me engrandecer, mas tentando ser transparente com quem sou.

"Saudades é o amor que fica." capa por: @xuxugraphics (instagram)