Filha_de_Grindelwald
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em algum lugar onde a terra ainda guardava o cheiro da morte, uma jovem abriu os olhos. Pretos, fundos, refletindo a lua como se fossem feitos de vidro rachado. Seu rosto, pálido demais, parecia mais lembrança do que carne; os lábios, secos, carregavam a rigidez de quem já havia beijado a eternidade.
O vestido de noiva estava rasgado e manchado de terra, mas ainda era branco. Branco como a ironia de uma promessa que nunca se cumpriu. O véu, preso em seus cabelos negros, se desfazia em fiapos que se misturavam ao vento noturno. Em seu dedo, a aliança ainda brilhava fraca, como um grilhão dourado.
Ela ergueu as mãos frágeis, unhas quebradas, e empurrou a terra acima de si. O mundo pareceu estremecer quando Dália se arrastou para fora do buraco que era, ao mesmo tempo, sua prisão e seu berço. A lua a observava de cima, silenciosa, cúmplice.
Dália não sabia se era o tempo que voltava para buscá-la, ou se era ela que voltava para buscar o tempo. Não lembrava o instante exato da morte, mas lembrava o peso: o peso de ter amado, o peso de ter sido arrancada do amor. Ano após ano, abria os olhos naquela mesma noite, presa a um ciclo que nunca terminava.
Ela não sabia ao certo o que procurava. Vingança? Redenção? Ou apenas alguém que a visse?
Enquanto caminhava, seus saltos quebrados batiam contra o chão, ecoando no vazio. Toc. Toc. Toc. Cada passo era um chamado, uma lembrança de que entre a vida e a morte existia um espaço, e ela habitava exatamente nele.
Dália vagava.
E Nunca Mais, como sempre, já a esperava.