MacieleNery
Prefácio
Há livros que nascem do sol.
Este não.
Este nasceu da água - daquela água fina que escorre por dentro quando ninguém vê.
Veio das chuvas íntimas, das tardes onde o coração fica pendurado na beira do peito, pedindo para ser ouvido.
Cada poema aqui é um gesto.
Um fio de luz atravessando o nevoeiro.
Um pedaço de silêncio que se recusou a morrer.
Escrevi como quem costura feridas com linha de vento:
devagar, quase tremendo, mas com a delicadeza de quem sabe que certas dores só florescem quando tratadas com suavidade.
Talvez você encontre nesta obra a sombra de si mesmo.
Talvez encontre só a menina - aquela que chora sem ruído, que carrega mundos na bolsa, que recolhe pétalas para não recolher despedidas.
Mas se encontrar apenas o eco, já estará bom.
Porque poesia também é isso:
uma casa feita de ecos, onde a alma aprende a respirar outra vez.
Este livro não quer ensinar nada.
Quer acompanhar.
Quer sentar ao seu lado enquanto a vida passa, lenta, como gotas escorrendo numa vidraça antiga.
Quer segurar sua mão sem interromper o seu silêncio.
Se algum verso tocar você, que seja como a chuva toca o chão:
suave, paciente, inevitável.
E que cada palavra seja uma pequena abertura -
um lugar onde a solidão, finalmente, possa descansar.
Entre.
Aqui, tudo dói com beleza.