"Congratulamo-nos por haver atingido um tal grau de clareza, deixando para trás todos esses deuses fantasmagóricos. Abandonamos, no entanto, apenas os espectros verbais, não os fatos psíquicos responsáveis pelo nascimento dos deuses. Ainda estamos tão possuídos pelos conteúdos psíquicos autônomos, como se estes fossem deuses. Atualmente eles são chamados: fobias, obsessões, e assim por diante; numa palavra, sintomas neuróticos. Os deuses tornaram-se doenças. Zeus não governa mais o Olimpo, mas o plexo solar e produz espécimes curiosos que visitam o consultório médico; também perturba os miolos dos políticos e jornalistas, que desencadeiam pelo mundo verdadeiras epidemias psíquicas." - Carl G. Jung Hoje em dia não temos apenas sete Pecados Capitais, mas toda uma sorte de comportamentos proibidos e - na maioria das vezes - tabus que rondam nossas relações sociais. Esses comportamentos, para serem aceitos como formas possíveis de vida precisam ser validados e acompanhados por nossos novos sacerdotes, vestidos de branco, oferecendo novas formas de comunhão e absolvição. Mas os demônios que antes criavam tais pecados ainda rondam nossas vidas. Essas novas ações não os exorcizam, apenas nos deixam absortos de suas existências. Talvez, se a melhor arma do diabo é fazer com que não acreditemos em sua existência, ele tenha finalmente vencido a guerra. Mas, o diabo nunca foi nosso inimigo, tampouco eram os antigos deuses. Diante da nossa tentativa de nos livrar desse acesso ao fantástico, ao místico e ao mítico, não deixamos de viver esses arquétipos, apenas os estamos vivendo de outra forma. Não chamamos mais de Deuses, de Demônios ou de Delitos: chamamos de Doenças. Estes contos narram essa nova realidade e exploram diferentes formas de compreendermos as fronteiras da loucura e os limites do sofrimento mental.
7 parts