Quando alguém diz que quer ser livre, entenda que não quer ter que dizer isso mais a ninguém, incluindo você.
Agnes Heller comparava essa busca à cadeira vazia à espera de seu devido ocupante. Um dia virá, não sabemos quando.
Estamos à espera de alguém que mereça sentar.
Se esse alguém somos nós, esse é outro papo.
A autodeclaração da liberdade já é quase não querer dizer, antecipado.
Não lida com a existência de outros. Ou a coexistência.
Essa liberdade não foi alçada no alívio imediato de pontos finais.
Só o devido tempo de respirar, para quem acredita que o tempo tem controle sobre nossas escolhas...
Rupturas trazem confortos em meio a tempestades.
Esse conforto precisa de sorte, diria Nelson Rodrigues. Sem isso, nem um Chicabon será liberado.
Algo mais falta para a cadeira se assentar, a tempo.
Deixar (des)conexões escolher o próximo passo não satisfaz.
O conforto se alimenta dessa crença no tempo senhorial.
Sem amarras e paciências, pela liberdade rompemos elos.
Zygmunt Bauman aponta a facilidade da ruptura em termos de custo-benefício como um traço distintivo da Modernidade líquida.
Por todos os poros, vamos cortando, podando, vedando. A jato.
Em nome da liberdade. Libertas que sera tamen.
À espera da salvação, nos acomodamos.
A banda passou.
Carolina não viu.
(imagem: "Virgen Ninã Dormida", Francisco de Zurbaran)