Thomas gostava de filmes do Chaplin quando tinha oito anos e aos doze só lia Machado de Assis. Aos catorze ficou surdo e não conseguia mais tocar piano muito bem. "Não é para sempre" as pessoas diziam. "É tudo um pós-trauma que com muita terapia vai fazê-lo voltar ao normal." Acabou voltando. E aos dezoito, Thomas terminou de escrever seu primeiro romance de verdade. Mas era um novo normal agora. Sempre é. Ele percebeu que gostava dessa coisa de artista e sabia que outras pessoas também se sentiam assim. Por isso fundou o grêmio cultural de Siena junto de sua irmã e alguns amigos. Eles podiam fazer isso: levar a algum lugar. E ainda virar uma família. Mas em algum momento Tom já não estava mais lá. Tinha seus próprios becos e vielas interiores que levou pra longe. Agora que voltou, as coisas continuam um pouco bagunçadas no grêmio - várias dessas vielas que se cruzam com outras. Mas sua irmã precisa dele. E também tem Ana. Ah. Ana. Com seus cabelos ruivos e obsessão por Mary Shelley, ela acabou trazendo toda uma tempestade diferente. Mas ele diria a ela que gostava de poder ouvir a chuva de novo?
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