As palavras sempre foram minhas maiores inimigas. Ler, interpretar, escrever, associar, assimilar múltiplas ordens... Tudo muito complicado para mim. Por isso, recebi rótulos de estranha, retardada, "lenta", limitada e tantos outros adjetivos pejorativos. Com base no padrão arcaico de ensino tradicional imputado nas escolas brasileiras, eu não teria um futuro promissor.
Apesar disso, meus professores, colegas de turma e minha própria família não contavam com o fato de eu ser esperta e ter uma criatividade aflorada. Durante a minha infância, eu não entendia quão extensa era a minha defasagem linguística, então focava no que eu realmente era boa, ou seja, nas artes.
No fundo, eu sabia que era diferente, mas pensava que o mesmo se aplicava a todos. E não é verdade? Cada um com suas respectivas especificidades, talentos e ritmo. Porém, a realidade não é tão bonita quanto pintada na teoria. Os que divergem do "normal" são excluídos, ficam à margem. Infelizmente, eu estive por muito tempo nessa borda, apenas olhando para dentro, para o clã seleto da normalidade, o lugar que não comportava o diferente. O lugar que não me comportava.
Foi então que eu percebi que ser diferente era ruim. Muito ruim. Eu não quis mais ser diferente.