Já fazia certo tempo. Esperava, indiferente. Uma ou outra pessoa perpassava, apressada, razão do imediatismo da vida cotidiana. Ninguém olhava, percebia, era como se ele sequer existisse. Alternava seus sentimentos entre tristeza e torpor.
Um sorriso. Um cumprimento. Seria comigo? Pensou. Olhou para trás. Não havia ninguém. Era. Sorriu. Um breve diálogo os separou novamente, mas por um fugaz momento, onde já se preparara para voltar a sua insignificante e previsível vida.
Então a viu novamente, próxima, solícita e encantadora. Tentou, em vão, negar a si mesmo o que estava sentindo. Receio, medo. Não sabe. Mas aqueles minutos foram esplêndidos e, quando findos, convicto estava: precisava, inegavelmente, tornar a vê-la.
Como? Quando? Queria olhar em seus olhos, mirar seu sorriso, sua boca, como um amor platônico que se satisfaz com o simples desejo. E este sentimento que pensara ter morrido em seu peito, conclui apenas adormecido. Já não se reconhece mais, como que se passasse por uma metamorfose, como que se juntassem os cacos de seu ser e formasse um lindo, colorido e cintilante mosaico, obra do sentimento maior.