A Canção do Relâmpago

"Ouvi um bardo dizer uma vez que aqueles que tem seus nomes em canções, vivem para sempre.

Um vento vindo do Norte nos atingiu com suavidade assim que ela terminou de falar, fazendo nossos cabelos dançarem à nossa volta como flâmulas. Quando o vento cessou, distraidamente ela afastou para atrás da orelha uma mecha errante de cabelos que vagava pelo seu rosto.

- Conseguir a vida eterna parece bem fácil então. Se for assim, acho que já a consegui.

Ela virou o rosto na minha direção e me perscrutou com olhos afiados. Por fim, vendo que eu não estava brincando, falou:

- Verdade. Os homens contarão histórias sobre você por muito tempo, centenas de anos. Mas e quanto a mim?

- Você? Bem, posso escrever um livro. Ou posso compor umas duas músicas falando sobre a jovem e bela Ágata, que tinha o mais belo sorriso, uma voz agradável de se ouvir. Posso acabar esquecendo o fato de você ser meio feinha.

- Mas que gentileza a sua. - Debochou ela, deformando o belo resto enquanto fazia uma careta.

Com gentileza levou a mão até meu peito, fazendo um pouco de força. Entendi o recado e deitei sobre a grama. Por um momento ela me olhou de cima, os olhos feéricos me analisando, um sorriso no rosto. Pensei que me beijaria, mas não. Ela simplesmente deitou a cabeça em meu peito enquanto se aninhava em meu braço para se proteger do frio.

- Eu acho isso triste. - Comentou. - Sua existência passa a depender das outras pessoas. Você passa a ser aquilo que dizem sobre você. A cada história você tem um formato diferente. Essas pessoas não vivem de verdade; não sentem, não comem, não beijam, não cantam, não dançam... Não é assim que quero viver, Heid. Eu quero sentir o cheiro que fica depois da chuva, o gosto do café, o vento... você.

Eu a apertei com força contra mim.

- E você vai. - Prometi. Levei uma mão até seus cabelos e comecei a acariciar sua cabeça.

Acima de nós, a lua e as estrelas nos