O primeiro poema que escrevi com caneta

Seis palavras
E num arrombo, sem aviso nem
Preparação, o comboio mais
bonito, que nos tinha
visto juntos a primeira vez,
tornava-se agora o mais triste.
Com seis balas,
Que para ti eram seis palavras,
Tornou-se a expectativa em assombro,
E os beijos de repente saíam magoados e tortos,
Nestas bocas que dantes encaixavam tão bem.
Os olhos antes brilhantes de desejo,
Agora emudecidos pelo brilho de lágrimas por cair
(só quando chegar a casa)
Todas elas no lugar dos beijos a pedir.
A pedir?
Que chegavam sem pedido.
Desde aquele dia,
aquele caminho pedonal,
aquela estação de comboios,
que oiço todas as canções mais tristes do mundo,
E cada uma delas, cada uma e todas juntas,
Se ora eram ridiculamente sentimentais,
Agora parecem ter sido escritas para nós.
E volto a escrever sobre a velha dor.
Sempre a mesma,
reciclada, mastigada,
em novas línguas e novos corpos.
O teu era diferente,
E o meu coração aperta quando me apercebo que uso o pretérito.
O teu será sempre o diferente.
Digo, muito romântica,
E parece que me esqueço da promessa
De dar-te amor.
Ser amor.
Eu ensino-te a sê-lo também,
E assim aprendemos juntos.
Quem diz que dois analfabetos não podem inventar o seu abecedário?
Peço a todo o misticismo que
Puxo
E espremo
De dentro de mim(e deixo aqui escrito
Porque o que não se escreve não existe)
Que vire o mês e
Vire a onda com ele também.
E que te devolva a mim
Eu areia
E tu onda

Inês Abreu Conduto

30.Julho.2018