Oração à vida Ó vida, se não for muita petulância, dai-me a graça de viver-te. Anseio por plenitude. De tudo. Sem exceções egoístas. Sei das orações que te fazem. Mas não escutas? Ocupaste os ouvidos com os que choram ao nascer Lamenta-te com os que não querem mais o enfadonho respirar E esqueceste de nós, os esperançosos? Ou acha-nos estúpidos, a ponto de não merecimento de atenção? Ó vida, se por acaso me ouves calada Como quem se saboreia no penar Diz-me o porquê do teu verbo doer? Não pergunto como quem discorda, Mas como quem cansou de sentir-se em sufoco, O fincar dos doentes na carne. Viver é dor? Se for, que doa então. Faça-me sentir nas entranhas. Ó vida, por favor, eu rogo Não te faças migalhas. Dai-me de comer em pratos cheios. Sacia-me o salivar entre os dentes, como quem não aguenta esperar. Pois anseio por plenitude. De dor. De vida.All Rights Reserved