Os cascos de cavalo batem contra a estrada de pedra. A carruagem que passa leva o mercador e sua filha para longe do pacato vilarejo de cinzas. Uma mulher os acompanha. Chegue mais perto, veja como ela guarda algo no decote de seu vestido e olha para trás. Seus olhos atentos varrem as fachadas das casas do vilarejo com desconfiança. Que história seus olhos semicerrados guardam? Se aproxime mais. Ela se esquiva ao se ajeitar no assento acolchoado da carruagem. O ângulo ligeiramente curvado em seu corpo não é comum em uma mulher em tão tenra idade. Que mágoas circulam por sua coluna? Cigana é do que a chamam. Nômade. Estrangeira. Esteve se mudando com o mercador de um lado para o outro. Dizem que a criança sequer é dela. Não é mulher honrada. Não ouça o que as línguas afiadas sussurram sobre a jovem. Sempre houveram relatos sobre ela. Se há um padrão em nossas vidas que se repete, como pudera Evena escapar de seu algoz, seu derradeiro destino? Mais uma vez, ela foge de seu passado. E mais uma vez, há um homem em seu encalço. Se aproxime ainda mais, se lhe sobrar audácia, marujo de primeira viagem. Tenho certeza, já ouviu sobre os perigos que a cercam. Se ousa conhecer a história de Evena, desbrave pelo mar de escuridão a que reduziu o caminho dessa jovem em gelo. Trace um caminho pelo rastro de ossos que são suas pegadas. Os segredos que se escondem pelas linhas de sua mão. É vermelha a sua história, pelo sangue também, e pela marca de destruição que deixou para trás. A marca de seu veneno. Mas devo alertá-lo: a partir daqui é um caminho sem volta. E há venenos mais letais que o da jovem dama. Você tem coragem de conhecer a história debaixo das escamas?All Rights Reserved