A mesma sensação de estar sendo observada, que havia me acompanhado da metade do dia para cá, retornou mais forte que nunca. Meus olhos seguiram a sombra formada no chão pelo corpo parado na porta, dali meu olhar subiu centímetro por centímetro. Nos pés não estavam os mesmos sapatos que a maioria dos alunos - aqueles que seguiam as regras - usavam. Um par de Vans preto, surrado, sua calça mesmo sendo de alfaiataria parecia dois números maior, a camisa saía por baixo do terno, esse que não estava encaixado da melhor maneira em seu tronco, a gravata frouxa antecipou o que eu não queria ver.
Um frio absurdo desceu por minha espinha, meu coração batia cada vez mais forte e eu podia sentir os movimentos sem nem tocar meu peito. Os lábios eram bem avermelhados, típicos de quem possuí pele clara demais, o nariz se encaixava perfeitamente nos traços de todo o rosto, só me faltava ver os olhos. Pisquei lentamente, mas quando voltei a abri-los foi como um choque. Estava olhando diretamente seus olhos verdes. Prendi o ar dentro dos pulmões porque para mim não era mais possível.