"Confiro mais uma vez o jantar pronto e servido sobre a mesa. A superfície de vidro embaçado pelo calor emitido por algumas travessas. Encaro o relógio prometendo pela sétima vez que é a última que o encaro. Já se passa das duas e ele ainda não chegou para o jantar do nosso aniversário de casamento. De repente ouço risadas, o tilintar de um molho de chaves e portas batendo. Ao fundo o som de alguns objetos provavelmente estilhaçados por todo o chão. Me levanto, deslizando as mãos pelo meu vestido, para que não se amasse por nada. Gostaria de estar impecável para quando ele chegasse. A meia luz que preparei deixava o ar do apartamento sedutor até mesmo para mim, que sou completamente cética nestas questões. Mais um estrondo. Decido ir até a janela, empurrando um pequeno pedaço do tecido da cortina que cobria a visão para o apartamento da frente. Seu cabelo estava bagunçado e com certeza aquela tatuagem em suas costas não era temporária. A risada que antes ouvira pertencia à mulher sob ela, sem qualquer inibição ou receio de um flagra. Pude enxergar algumas marcas em sua cintura. Afinal, o meu apartamento é literalmente de frente para o dela. E não é como se ela se importasse em ser pega."