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Como um fantasma que escapou do paraíso, eu a via. Quando ia escovar meus dentes, eu a percebia ali, jogava na privada, vomitando o álcool que ingeriu em excesso, com as lágrimas rolando pelo rosto magro. Queria lavar seus cabelos, tirar sua miséria, mas ela não me respondia. Ela só chorava. Quando eu ia pegar o metrô, ela ficava de costas ou as vezes se atrevia a me fitar, com os cabelos mais longos que o normal, emaranhados com poeira mas cheirando a morango. Seu cheiro típico que me fazia chama-la de Moranguinho. Eu era a Passarinha dela, presa na gaiola e lutando para a liberdade. Nas festas, sempre que um rapaz me convidada para dançar e beber margarita batizada, ela estava no fundo, me encarando com olhos pretos suplicantes iguais de um desenho japonês. "Pare", eu queria dizer, "Pare de me perseguir. Chega!". Sentia vontade também de ajeitar o vestido que ela usava e havia subido demais. Queria explicar que existiam pessoas más, porém logo ela se dissipava e eu não sabia para onde. No sono ela sussurava que estava presa. Nora não poderia estar ali. Nas palavras escritas com marcador rosa neon na cama de hospital, ela continuava eternizada. "Nora esteve aqui" estava gravado no seu antigo quarto compartilhado. Implorando para retirarem o tubo do seu nariz. Implorando para que eu escapasse com ela pela portinha de remédios. Eu nunca conseguiria passar por lá, talvez nem a pequena Nora. Num papel que o enfermeiro lhe deu após muita insistência e cara feia, ela escreveu com uma caneta falhada os dias passando. Todos que foram obrigados a dormir ali por alguns meses após sua saída, sabiam que ela foi real. Nora existiu, Nora dormiu ali e chorou ali. Eu queria Nora, eu queria nossos passeios no parque. Eu não teria mais Nora, a verdade me socava o estômago toda manhã. Tudo que eu ainda tinha era seu fantasma perambulando por a