A VOZ GRÁVIDA A tua voz fica grávida de si mesma; A tua felicidade anda sem graça e ainda pede esmolas por aí; Sobre as inconstâncias do teu desejo, eu acabo dormindo sem querer; Enquanto o sangue da minha vitória se mistura com o teu vinho derramado no chão; Eu me pergunto sobre os acasos que não possuem nomes; Eu mato a fome de quem quis me matar; Eu desenho a sombra do meu próprio medo; Eu procuro todas as coisas que eu quero perder; Eu refaço memórias que não reaprendi a esquecer; Eu crio barganhas e misturo cartas sobre a mesa; Corro por aí para diminuir a minha tristeza; Guardo os meus segredos debaixo da mesa; Aprecio a esnobe vontade que sempre quer se sobressair; Ofereço vaidades para mim mesmo; A voz grávida continua inerte, sem ritmo e se vendendo por qualquer moeda; Subo no prédio mais alto para observar a minha própria queda; Começo a rir, chorar, soletrar e desdenhar de tudo que prometemos. (Leonardo Campos Coutinho)All Rights Reserved